A invasão da algarobeira: aspectos negativos e positivos

Por Ricardo Banana
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A invasão é caracterizada pela ocupação e estabelecimento de uma espécie vegetal exótica em uma determinada área, com posterior expansão para habitats circunvizinhos, podendo ocasionar perdas econômicas e/ou biológicas, com a extinção da biota nativa, afetando a estrutura da comunidade ou a função do ecossistema invadido. As invasões biológicas podem causar impactos positivos e negativos.

Considerando a composição florística e fitossociológica da Caatinga, com destaque para a riqueza dos endemismos, ocorrência de 932 espécies de plantas vasculares e mais de 318 espécies vegetais endêmicas, e o fato de ser um dos biomas menos estudados no Brasil, com cerca de 1% de unidades de conservação (proteção integral, como parques nacionais e reservas biológicas), que se caracterizam em informações de elevada importância, este tem sido explorado de forma não sustentável pelo homem, por causa de corte de árvores para madeira e para lenha, a caça de animais e a contínua remoção dessa vegetação para a criação de bovinos e caprinos, levando ao seu empobrecimento. Neste contexto, se insere a vegetação ciliar, tanto do Rio São Francisco como de seus afluentes, as quais estão quase totalmente eliminadas em consequência da exploração extrativista e para a implantação de sistemas agropastoris, que são considerados instáveis.

E, nesse cenário de degradação da Caatinga, é encontrada a algarobeira (Prosopis juliflora (Sw) DC.) (Leguminosae: Mimosoidae), espécie exótica, originária do norte da América do Sul, América Central e Caribe, que foi introduzida no Brasil em 1942, em Serra Talhada, PE, com sementes vindas de Piura, Peru, para suplementação alimentar dos animais. No Semiárido, por várias décadas, esta espécie foi plantada nos platôs (ambientes altos e secos). A algarobeira colonizou e tem invadido, cada vez mais, as planícies aluviais (ambientes baixos e úmidos) e os terraços aluviais (ambientes marginais dos rios). O gênero Prosopis pode ser encontrado desde o nível do mar até 1.500 m de altitude, com precipitação anual variando de 150 mm a 750 mm.

Impactos Negativos

Efeitos sobre os indivíduos (morfologia, comportamento, mortalidade, crescimento), efeitos genéticos (alteração de padrões de fluxo gênico, hibridização), efeitos na dinâmica de populações (abundância, crescimento populacional, extinção) efeitos nas comunidades (riqueza, diversidade, estrutura trófica) e nos processos do ecossistema (disponibilidade de nutrientes, produtividade e regime de perturbações).

Invasões sucessionais naturais do gênero Prosopis às pastagens herbáceas, formando densos povoamentos, reduzindo grande quantidade de pasto utilizável, bem como causando efeitos de hibridização de espécies e de impactos econômicos, sociais e ambientais.

Colonização de P. juliflora, possibilitando a formação de povoamentos impenetráveis, nas áreas degradadas, alteradas, erodidas, sob forte pressão de pastejo, afetadas pela salinização, áreas ao longo de canais de irrigação e margens de rios, riachos e outros cursos d’água, que são ambientes favoráveis ao seu estabelecimento. É uma espécie extremamente agressiva, sendo sugerida sua introdução somente em locais de intensa aridez, para evitar danos à natureza. Essa espécie tem invadido extensas áreas baixas (planícies aluviais) da Caatinga, em vários estados do Semiárido brasileiro, formando densos povoamentos, mostrando que está adaptada e estabilizada nessa região, o que pode comprometer a sobrevivência de espécies nativas, principalmente quando em competição.

Na composição florística e no estrato arbustivo-arbóreo da Caatinga, empobrecendo-os, principalmente, a Caatinga arbustivo-arbórea de várzea (planície aluvial) e de encosta (terraço aluvial), que formam a faixa ciliar, ocasionado pelo avanço das populações de algarobeira em áreas de Caatinga degradadas e principalmente pela disponibilidade de água destes ambientes.

Efeitos alelopáticos sobre as espécies nativas, que são os efeitos de substâncias químicas presentes nas folhas, frutos, sementes, raízes e flores de P. juliflora, podendo afetar a germinação e o crescimento das plantas cultivadas, das ervas daninhas, dos arbustos e árvores e, ainda, reduzindo as raízes, os rebentos e o crescimento de plântulas.

Estratégias para o Manejo de Prosopis juliflora

Recompor o ambiente ciliar degradado com as espécies nativas desse ambiente.

Erradicar e/ou manejar P. juliflora de áreas invadidas e plantar as espécies nativas.

Monitorar as áreas invadidas e efetuar o controle biológico, cultural (capinas e podas) e/ou químico (herbicidas seletivos) de plântulas de P. juliflora no seu período de maior sobrevivência e esperança de vida (período chuvoso), processar os frutos (farelo, etc.) e evitar o pastejo de animais, para conter a disseminação e o aumento populacional da espécie.

A invasão da algarobeira: aspectos positivos

A invasão biológica é caracterizada quando uma espécie animal ou vegetal é transportada para outras áreas, ocupando um espaço fora de sua área geográfica, com adaptação da espécie e alteração do ecossistema. A invasão biológica compreende quatro estágios: transporte, colonização, estabelecimento e ocupação na paisagem. Essas invasões têm atraído a atenção da comunidade científica por causa dos seus impactos ecológicos e/ou econômicos. Plantas exóticas cultivadas têm tornado-se invasoras em muitos ecossistemas.

Algumas dessas espécies apresentam distribuição restrita e baixa taxa de estabelecimento em seus habitats nativos, mas mostram grande crescimento populacional, uma vez que chegam a novos sítios, como é o caso da algarobeira (Prosopis juliflora (Sw) DC.) (Leguminosae: Mimosoidae),

espécie exótica, arbórea, originária do norte da América do Sul, América Central e Caribe que foi introduzida no Brasil em 1942, em Serra Talhada, PE, com sementes vindas de Piura, Peru, para suplementação alimentar dos animais domesticados (bovinos, caprinos, ovinos e outros).

Com a retirada da vegetação ciliar, a degradação das margens dos rios nordestinos e a presença de umidade nas áreas baixas, com exclusividade para os solos das planícies aluviais, tem-se verificado a invasão e o surgimento de densos povoamentos de P. juliflora. Entretanto, a expansão desordenada de P. juliflora por todo o Nordeste do Brasil, ocupando as áreas baixas de leitos e margens de rios do Bioma Caatinga, principalmente nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Piauí, demonstra que essa espécie já pode ser considerada como naturalizada, por causa de sua adaptação e estabilização na região semiárida brasileira. Portanto, mesmo considerando-se os impactos negativos causados pela invasão de algarobeira, em áreas das planícies aluviais e, diante do grande potencial adaptativo e do rápido crescimento e desenvolvimento, em ambientes com disponibilidade de umidade no solo, pode-se apontar vários benefícios, do ponto de vista forrageiro (frutos), madeireiro, melífero e ambiental, desta espécie para a região semiárida.

Impactos Positivos

Ocupação de solos degradados e/ou solos salinizados, imprestáveis para a maioria das espécies florestais nativas e culturas agrícolas.

Na alimentação animal: consumo dos frutos tanto na forma in natura como na forma de ração animal (farelo) ou como complemento alimentar, oriundos de processamento industrial.

Na alimentação humana: na forma de farinha e goma (amido) para bolos, biscoitos, broas, pães, cereal matinal (à base de farinha de algaroba e milho) e café, geleia, licor, cachaça, vinagre, etc.

Como produtos madeireiros (mourões e estacas para cercas) e como produtos energéticos na forma de lenha e carvão, os quais são muito utilizados nas propriedades rurais do Semiárido brasileiro, bem como em áreas urbanas nas padarias, pizzarias e churrascarias.

Como melífera: tem grande contribuição na apicultura e sua floração e frutificação ocorrem na estação seca, durante vários meses. Nesse período, a colheita da algaroba torna-se a única fonte de renda para os pequenos agricultores do Semiárido.

Na proteção e recuperação de solos: controla a erosão, melhora a fertilidade com o incremento de matéria orgânica, nitrogênio e fósforo e suas raízes associam-se a bactérias do gênero Rhizobium, fixando e adicionando nitrogênio ao ambiente.

Em sistema agrossilvipastoril (algaroba + culturas anuais e algaroba + capim-buffel + animal, fornecendo vital suprimento de forragem e madeira para as propriedades rurais e sombra para os animais.

Pode-se sugerir que P. juliflora, em áreas invadidas, na região semiárida, apresenta-se com grande potencial, para exploração da cadeia produtiva, envolvendo três segmento básicos: a) florestal (madeira para construções rurais, carpintaria, marcenaria, dormentes, postes, mourões, estacas, lenha e carvão), b) ração animal (consumo de frutos in natura e farelo) e c) alimentação humana (farinha).

Clóvis Eduardo de Souza Nascimento

Eng. Florestal – Pesquisador A

Embrapa Semiárido – Petrolina, PE

clovisen@cpatsa.embrapa.br

 

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2 comentários

Marcos Bezerra 29 de abril de 2017 - 15:37

Prezado,
Você foi muito feliz em sua analize a respeito da algaroba, agora eu, gostaria de saber, se a algaroba, teria resistência para construção de casa. Preciso saber se a algaroba se comportaria bem para servi como viga de sustentação, coluna e ate mesmo tabua

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marcos paulo souza dias 11 de novembro de 2013 - 16:19

COMO VAI TB BEM , ESTOU ENCANTADO COM A ALGAROBA ,SE PODER MANDE-ME INFORMAÇÃO SOBRE ,CRESCIMENTO, IDADE,ALTURA POR ANO, OBRIGADO
MARCOS PAULO

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