Agricultor familiar com tecnologia de armazenamento de água é agricultor mais preparado para viver dias, meses e até anos sem chuva no Semiárido. As tecnologias, como cisternas e barragem subterrânea, permitem aumentar a produção nos tempos de chuva. O que é produzido a mais, pode e deve virar estoque para os tempos de “vacas magras”. Além disso, a água estocada nas tecnologias possibilita a manutenção do roçado, da horta e do rebanho mesmo em épocas de estiagem.
A lógica da estocagem é a lição número um da proposta de convivência com o Semiárido, defendida pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), que se contrapõe às estratégias de combate à seca. A seca é um fenômeno natural, cíclico e previsível, que pela sua própria natureza não pode ser combatida. A estratégia de estocar para usufruir nos tempos de precisão é uma sabedoria antiga. No primeiro livro da Bíblia, em Gênesis, José do Egito já dizia isso ao interpretar um sonho premonitório do faraó sobre uma grande seca de sete anos que devastaria o Egito.
E no Semiárido brasileiro, assim como no Egito do personagem bíblico, é preciso aprender a estocar para que o período sem chuva não se torne um problema social e, muito menos, seja encarado como uma catástrofe ambiental. Num momento crucial para a região, quando a estiagem deste ano é dita como a maior dos últimos 30 anos, conversamos com três famílias agricultoras para saber como elas estão resistindo à seca. Segundo dados do Governo Federal, o Semiárido vivencia uma estiagem bastante intensa que atinge 90% dos municípios da região, afetando a vida de 12 milhões de pessoas.
Das três famílias, a de Abelmanto e Jacira é a mais equipada com tecnologias de armazenamento de água: cisterna de 16 mil litros, cisternas-calçadão de 52 mil litros e barragem subterrânea. A família de Adão e Fabiana tem as duas cisternas – uma de consumo humano e outra de produção. E o casal Luís Magno e Fátima, ainda sem filhos, não dispõe de tecnologias próprias, mas estão acessando água doce de um poço artesiano cuja água é bombeada por uma tecnologia de caráter coletivo disseminada pela ASA: a bomba d´água popular.
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