Após esforço contra duelo familiar, irmãos Falcão sobem no ringue por histórica 1ª final brasileira

Por Ricardo Banana
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O Brasil nunca teve um finalista olímpico no boxe e nesta sexta-feira pode garantir ao menos uma medalha de prata para uma dupla de irmãos – o bronze já está assegurado. Yamaguchi e Esquiva Falcão são os protagonistas de uma história com enredo de cinema, iniciada no Espírito Santo pelo veterano pugilista Touro Moreno, e que chega a mais um capítulo decisivo. Para ambos irem à Olimpíada juntos e avançarem até esta dobradinha como medalhistas, eles superaram fome, saudade e apostaram até em um sacrifício do “pequeno” Yamaguchi. Tudo em busca de não apenas um ouro inédito, mas dois.

A missão começa com o mais novo Esquiva, às 11h (de Brasília). O pugilista de 22 anos desafia a torcida da casa para enfrentar o britânico Anthony Ogogo na semifinal da categoria até 75 kg. À noite em Londres, 18h em horário brasileiro, Yamaguchi, 24, encara o russo Egor Mekhontcev por vaga na final da categoria até 81 kg.

O detalhe principal desta dobradinha está neste último peso: 81 kg. Curiosamente, os irmãos têm praticamente a mesma altura – Yamaguchi tem 1,79 m, um centímetro a menos que Esquiva – e deveriam competir no mesmo peso, 75 kg. No entanto, para evitar a concorrência e, como se vê em Londres, ampliar a chance de medalhas, o mais velho se tornou uma aposta na categoria meio-pesado, enfrentando competidores muito maiores.

Os irmãos Falcão trocaram o Espírito Santo por São Paulo no início da adolescência, primeiro com Yamaguchi, que depois levou Esquiva consigo para treinar no clube São Caetano. No entanto, vendo a semelhança em seus tamanhos, desde pequenos eles passaram a se dividir em categorias.

“Essa mudança sempre foi uma conveniência, na verdade. E não para que não se enfrentassem, mas para terem mais chances de classificação. Como o Yamaguchi é mais velho, acabou sempre sendo um pouco mais pesado. E hoje temos a chance de dois finalistas”, explica Ivan de Oliveira, que foi técnico do ex-campeão mundial Sertão e acompanhou o trabalho do irmão Gabriel de Oliveira, também treinador, na adolescência da dupla.

Ainda que tenha vencido suas três lutas com grandes atuações, Yamaguchi precisou enfrentar atletas como o chinês Fanlong Meng, de 1,90 m, e mostrou que com a velocidade pode superar os obstáculos de lutar fora de seu peso ideal. Pela parte de Esquiva, também um lutador ágil, é a pegada forte e a garra que tem feito a diferença.

“Para um cara teoricamente mais fraco na parte física, a velocidade acaba sendo o diferencial do Yamaguchi. O boxe olímpico hoje mescla a velocidade com a contundência, diferentemente do que se via antes, que parecia uma esgrima. Com o estilo deles, de ir para frente, eles têm muita vantagem em relação aos rivais”, analisou Ivan.

Yamaguchi e Esquiva chegaram a lutar em categorias mais leves, sendo o primeiro no 75 kg e o mais novo no até 69 kg. O corte de peso dificultava boas atuações nos torneios mais longos. A chance de subirem veio com o fim de carreira na seleção de Washington Silva, quadrifinalista em Pequim-2008 no até 81 kg, que abriu vaga para uma série de atletas trocarem de categoria, sofrerem menos com a balança e, a exemplo dos Falcão, melhorarem seus resultados.

O fato é que, com tudo isso, o Brasil duplicou as chances de faturar o seu tão sonhado ouro e superar a marca de Servílio de Oliveira nos Jogos do México, em 1968. O peso mosca (até 51 kg) foi medalhista de bronze, feito que demorou 44 anos a ser igualado. Adriana Araújo foi a responsável por repetir a conquista, já em Londres, e os Falcão garantiram pouco depois a melhor campanha brasileira na história do boxe. Resta saber se eles ficarão com o já garantido bronze – o boxe não tem disputa de terceiro lugar – ou se uma nova cor brilhará em suas medalhas.

Fonte: UOl

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