Aprovado no Sisu, preso no Rio aguarda decisão judicial para estudar

Por Ricardo Banana
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A aprovação no vestibular para André Luiz Galceran, 35 anos, significa um passo para a liberdade. Cumprindo pena há três anos no Presídio Ary Franco, no Rio de Janeiro, ele espera receber o aval da Justiça para cursar Ciências Sociais na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). O detento foi aprovado em 21º lugar na primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

As oportunidades profissionais e a possibilidade de progressão para o regime semiaberto motivaram André a tentar uma vaga no ensino superior. O material de estudo usado por ele foram as apostilas do Enem distribuídas por um jornal popular carioca.

Para fugir do barulho da pequena cela onde divide com outros 11 detentos, o diretor do presídio criou uma sala de estudo, onde André passava as noites e madrugadas debruçado sobre os livros. Além dele, outros quatro presidiários da mesma unidade foram aprovados no Sisu.

Condenado a oito anos por tráfico de drogas, André se prepara para enfrentar, além dos livros, o preconceito. “A discriminação sei que vai haver, não tem jeito”, conta o preso, que sonha em trabalhar em Organizações Não Governamentais, que apóiam as causas indígenas.

“A faculdade vai mudar muita coisa no âmbito profissional, vai ampliar as oportunidades de ter um trabalho digno. Minha mãe é professora, e eu gostaria de também seguir esse caminho. Estou apreensivo para o início, vai ser uma coisa nova na minha vida. Vai ser tudo novo”, relata o detento.

Prisão x Liberdade

Antes de ser preso, em dezembro de 2009, André nunca havia prestado vestibular. Ele diz que o ócio da penitenciária o fez mudar de ideia. Um ano depois, ele retomou os estudos, tirou a certificação do Ensino Médio, e prestou vestibular para pedagogia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mas não passou. A aprovação aconteceu apenas na terceira tentativa.

“Durante esse período que fiquei aqui, muita coisa mudou na minha vida. Passei a me valorizar, valorizar minha família, comecei a planejar a vida, uma coisa que eu não fazia. Eu não tinha perspectivas, planos, eu vivia o dia a dia. Hoje eu já imagino como vai ser a partir do momento que eu entrar na faculdade e o dia que eu vou me formar”, sonha André.

Desde que foi preso pela Polícia Federal na Rodovia Presidente Dutra, transportando 20 quilos de cocaína, André não vê a família. O contato com a mãe e a filha de 18 anos é apenas por cartas. Emocionado, ele diz que escolheu a UEMS para ficar mais perto dos parentes, que moram na cidade de Amabai, no interior do Mato Grosso do Sul.

“Minha filha terminou agora o Ensino Médio, mas não sei o que ela quer cursar. Gostaria de estudar com ela. Acredito que agora minha família está orgulhosa de mim. Três anos atrás anos foi o desgosto, mas três anos depois, eu mudei”, argumenta o preso.

O diretor do Presídio Ary Franco, Fábio Luis Sobrinho, explica que André já pode migrar para o regime semiaberto, por ter cumprido um sexto da pena, além de ter bom comportamento.

“Acho difícil o juiz negar, ele preencheu todos os requisitos. Talvez seja mais difícil conseguir o translado para Mato Grosso do Sul, pode ser que falte viatura ou verba para levá-lo para lá. A aprovação dele estimula os outros presos, abre uma expectativa para vários, apesar que são poucos os que vão adiante, poucos perseveram no estudo. Geralmente, eles fazem o vestibular para tentar migrar para o semi-aberto. No entanto, nunca soube de um juiz que concedeu o semiaberto sem que o preso tenha cumprido um sexto da pena”, diz o diretor. (G1)

 

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