Caso Miguel: delegado abre delegacia mais cedo para ouvir depoimento de Sarí

Por Ricardo Banana
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Vinte e oito dias após a morte de Miguel Otávio, 5 anos, ocorrida em 2 de junho, a primeira-dama de Tamandaré, Sarí Côrte Real, presta depoimento, na manhã desta segunda-feira (29), na Delegacia de Santo Amaro, no Recife. Sarí é suspeita de homicídio culposo porque estava com a guarda temporária do menino, filho da trabalhadora doméstica Mirtes Renata, no dia morte da criança. No dia da tragédia, Mirtes estava de serviço da casa de Sarí e deixou o filho aos cuidados da mulher enquanto levava os cachorros da empregadora para passear. O delegado responsável pelo caso, Ramon Teixeira, abriu a delegacia às 6h, duas horas antes do expediente oficial, para ouvir Sarí. A mãe de Miguel também foi à delegacia após descobrir que a ex-patroa está prestando depoimento. Ela permanece na frente da seccional segurando um retrato de Miguel.

“Ela está vindo hoje porque no primeiro dia que ela veio não falou nada. Eu sabia que ela viria hoje e estava planejando um protesto de 10h. Eu só fiquei sabendo que ela estava aqui de manhã porque vi na TV, na imprensa. O delegado antecipou a chegada dela aqui”, disse Mirtes. Junto com a trabalhadora doméstica estavam duas irmãs dela, Fabiana e Erilurdes Souza. A trabalhadora doméstica acrescentou: “Acho isso um absurdo. Ela é uma pessoa qualquer, então deveria ter esperado a delegacia abrir em horário normal. Por que mais cedo? Por que esse privilégio? Ela não tem cargo político nem curso superior para ter esse privilégio. Fiquei surpreendida por ela ter chegado praticamente na madrugada.”

Enquanto Sarí presta depoimento, do lado de fora da delegacia algumas pessoas gritam contra ela: “Assassina! Saia daí! Seus vinte mil não pagam a vida de Miguel. “Miguel morreu ao despencar de uma altura de aproximadamente 35 metros, do nono andar do Edifício Píer Maurício de Nassau, conhecido como Torres Gêmeas e localizado no Bairro de São José, área central do Recife. “Eu vou mover céus e terras para que ela pague. Seja presa. Não vai trazer meu filho de volta. Mas vai trazer alívio ao meu coração.

Enquanto ela tá com dois filhos, dando amor e carinho, eu não tenho mais nenhum para dar amor e carinho”, desabafou Mirtes.

Mirtes voltou a falar que trabalhava para Sarí, junto com a mãe, mas recebia o salário pela Prefeitura de Tamandaré. Segundo ela, foram quase quatro anos trabalhando por esse contrato. Ela questionou também para quem teria sido destinado o último salário devido a ela e à mãe. “Esse dinheiro era para mim e minha mãe.”

No dia da tragédia, chorando e procurando pela mãe, Miguel entrou no elevador do edifício duas vezes para buscá-la. Ele chegou a ser impedido pela primeira vez por Sarí, mas conseguiu se desvencilhar na segunda tentativa. Em vídeos de câmeras de segurança, a mulher aparece apertando botões e deixando o menino sozinho no elevador.

Como Sarí estava com a “guarda momentânea da criança”, ela foi parcialmente culpada pelo acidente, caso previsto no Art. 13 do Código penal, que trata de ação culposa, por causa do não cumprimento da obrigação de cuidado, vigilância ou proteção. Após ser presa em flagrante, pagou uma fiança de R$ 20 mil e foi liberada. Ela está sendo investigada por homicídio culposo, onde não caberia intenção de causar a morte da vítima.
Diário de Pernambuco

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