Espaço do leitor: Petrolina, Juventude e o Direito à Cidade

Por Ricardo Banana
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kiuSegundo o IBGE a população estimada em 2015 para Petrolina era de pouco mais de trezentos e trinta mil habitantes. Aplicando sobre este número o percentual médio da população jovem no Brasil e em Pernambuco, que gira em torno dos vinte e cinco por cento, podemos ter uma ideia aproximada da quantidade de pessoas na faixa etária entre 15 e 29 anos em nossa cidade.
Somos cerca de oitenta mil jovens, que assim como em todo o país, dão concretude ao período que ainda vivemos do chamado “bônus demográfico”. Termo que foi forjado para afirmar que o período atual deve ser extremamente aproveitado e explorado, pois é passageiro e em alguns anos a população jovem começará a diminuir em relação ao contingente populacional não jovem.

É imprescindível, pois, que façamos o máximo de investimento possível agora em políticas de educação, saúde e cultura, para que tenhamos uma geração saudável, com alto nível de formação profissional e intelectual, que seja capaz de sustentar a inversão da pirâmide social do país que crescerá em número de pessoas economicamente dependentes e não ativas.
Dessa maneira, o debate sobre as políticas públicas de juventude tiveram grande crescimento ao longo da última década, principalmente em torno de temas voltados a inserção do jovem no mundo do trabalho e no ensino técnico e superior. Mas um debate pouco travado, mas muito caro para quem deseja pensar de maneira estratégica o papel da juventude é sua relação com a cidade.

Especialmente numa cidade como Petrolina, que ao longo dos últimos doze anos se consolidou, para além de um polo político-econômico, como um polo universitário de Pernambuco e região, é fundamental preparar e debater a cidade para as mudanças decorrentes deste novo período.

Além do crescimento populacional típico, são milhares de novos habitantes que continuam chegando à cidade e em um número de jovens cada vez maior, seja para estudar, seja em busca de oportunidades de trabalho.
Infelizmente a cidade não se preparou e segue sem estar preparada para o crescimento que tende a continuar. De maneira que, viver em Petrolina, principalmente para quem é jovem e morador dos bairros mais distantes do centro da cidade, é um desafio recheado de dificuldades que muitas vezes inviabilizam o próprio direito de “viver a cidade”.

Começando pela dificuldade de locomoção, com um dos piores e mais caros serviços de transporte público do país. Não é de hoje que se denuncia a alta taxa de exploração pelo cartel que há décadas controla o sistema de transporte coletivo na cidade. Basta relembrar os embates travados após a reconstrução da União dos Estudantes Secundaristas de Petrolina (UESP) em 2005, onde estudantes foram perseguidos e ameaçados por lutarem contra o aumento abusivo da tarifa e exigir a apresentação das planilhas que jamais foram vistas.

A luta dos secundaristas pelo direito ao transporte público e de qualidade marcou história e revelou há mais de dez anos os limites, o esgotamento e a grande necessidade de mudar o sistema. No entanto, de lá pra cá, o valor da passagem apenas aumentou, mas sem um único avanço ou melhoria significativa na qualidade dos serviços.
Sem transporte coletivo de qualidade, as distâncias numa cidade cada vez maior tornam-se cada vez mais instransponíveis. São poucas as pessoas que podem desembolsar quase oito reais para sair e voltar pra casa, isso se precisar pegar apenas um ônibus. E com certeza a juventude trabalhadora, que ocupa os mais precários postos de trabalho no comércio e na rede de serviços, com os mais baixos salários e que precisa conciliar o emprego, com o estudo e com a família, não podem de forma alguma pagar essa conta.

Tratamento semelhante tem ocorrido com os equipamentos públicos de cultura, esporte e lazer. Não é apenas o fato absurdo de uma cidade com mais de trezentos mil habitantes, numa região metropolitana que compreende mais de meio milhão de pessoas numa área de constante temperatura elevada, ter apenas um parque arborizado. Mas é o fato deste sequer conseguir ser apropriado pela maioria da população, com exceção dos moradores do entorno.
Por mais que novos equipamentos públicos tenham sido construídos, como academias e um centro voltado para a juventude, estes não possuem a dimensão para atender as necessidades sequer de curto, muito menos de médio e longo prazo. Não parece fazer parte do pensamento estratégico de quem ocupou-se em pensar a cidade garantir que ela esteja por completo disponível à toda a população.

Parece muito com o pensamento de quem realiza obras viárias pensando apenas em quem anda de carro e visando unicamente organizar os veículos nas ruas e avenidas para que caibam cada vez mais. Ou seja, é um pensamento extremamente limitado e imediatista que não dá conta de projetar uma mudança estrutural e duradoura, que envolva a diminuição da quantidade de veículos individuais motorizados e a ampliação do uso de transportes coletivos ou individuais não motorizados.
Para não deixar de utilizar os “exemplos de casa”, é como o caso do jamais construído Teatro Municipal. O que seria um dos mais importantes equipamentos públicos de cultura de uma cidade que tem a arte pulsando incessantemente em suas veias, jamais saiu do papel (ou do buraco), sem sequer apresentar alternativas viáveis como as iniciativas de anfiteatros ou centros de cultura nos bairros.

Em todos estes casos, há uma nítida concentração dos poucos espaços e equipamentos públicos nas áreas mais centrais da cidade, o que até poderia ser uma política funcional em um lugar de distâncias menores, mas que não é o caso de Petrolina.
Assim, especialmente para a população jovem, que não apenas têm a necessidade, mas o direito aos “equipamentos públicos que promovam o acesso à produção cultural, à prática esportiva, à mobilidade territorial e à fruição do tempo livre”, assegurado no Estatuto da Juventude, fazer o debate sobre o direito a cidade deve estar na ordem do dia.
Com a reflexão de que, continuando no mesmo caminho, vamos cristalizar as coisas como estão e em pouco tempo teremos uma barreira insuperável entre duas cidades dentro de uma. De um lado uma pequena cidade pensada para proprietários de automóveis que pagam por todos os seus serviços e de outro uma grande cidade completamente privada de direitos.

* Patrick Campops é estudante de Direito e foi diretor da União Nacional dos Estudantes

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