“Kit campanha” econômico sai pelo preço de carro popular

Por Ricardo Banana
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Consagrada e bem paga nas grandes campanhas eleitorais, a indústria de consultoria política brasileira vai oferecer em 2012 produtos de varejo para campanhas mais modestas para candidatos a prefeito e vereador.

Em uma agência especializada em marketing eleitoral, um aspirante a político pode fechar um pacote com consultoria individual e “enxoval de campanha” completo por pouco mais do valor de um carro popular – sai por R$ 36,8 mil para candidatos a vereadores e R$ 43,5 mil para candidatos a prefeitos.

Se o candidato preferir negociar os serviços separadamente, a campanha pode até sair mais barata.

“Descobrimos um nicho de mercado que é entregar material de qualidade para candidatos que não têm condição de contratar uma equipe de marketing permanente”, diz o empresário Rodrigo Maragliano, diretor do Núcleo Estratégico de Marketing Político.

O pacote “Essencial” para prefeitos promete uma “campanha vitoriosa” e inclui criação de material gráfico e online, jingle, programa de rádio, sessão de fotos profissional e seis encontros com consultores para treinamentos de mídia, assessoria de imagem e até sessões de relaxamento.

Maragliano já fechou 30 pacotes para as eleições deste ano e espera fechar outros 30 antes do início da campanha. “Fazendo consultoria individual eu conseguiria atender um ou dois clientes, no máximo.”

Também no segmento de marketing político para campanhas pequenas, o consultor político Sandro Soares vende por R$ 200, na internet, o kit com livro e DVD “Quero Ser Eleito” como “o programa que está revolucionando e democratizando as campanhas eleitorais em todo país”.

Segundo ele, a segunda edição do kit já vendeu 14 mil cópias desde o início de 2011.

No site Soares fornece também uma “consultoria online” a baixo custo para candidatos que querem discutir suas estratégias de campanha.

“As campanhas têm de funcionar como empresas de curto prazo, mas a maioria é muito desorganizada. Já vi candidato se desfazer de imóvel ou fazer dívida na reta final da campanha porque o orçamento foi mal feito”, diz Soares.

Marketing acessível

O vereador e candidato à reeleição em Fortaleza Plácido Filho (PDT) durante campanha em 2008

O vereador de Fortaleza e candidato à reeleição Plácido Filho (PDT) é um ávido consumidor de livros e já fez pelo menos seis cursos sobre marketing eleitoral.

“Leio muitos livros e assisto muitos filmes sobre política, faço debates com a minha equipe e a gente aprende muito”, diz ele. “Muitas coisas que os consultores ensinam eu já fazia, como mandar cartão de Natal, aniversário para quem vota em você”, diz Plácido Filho.

Ele perdeu três eleições antes de conseguir a cadeira vereador em 2008 e diz que também vai mais preparado para as próximas.

“Trabalhei quatro anos feito um louco para ganhar as primeiras eleições, e dessa vez também aprendi que tem que visitar as comunidades, mostrar o que você faz de bom”, afirma.

Ele agora também usa carro de som nas datas comemorativas e lançou uma revista sobre as realizações do mandato.

“Tem político que acha que isso é jogar dinheiro fora e prefere comprar voto, e acabou. Eu não faço isso, invisto em marketing.”

Candidato a prefeito em Vargem Grande Paulista, Região Metropolitana de São Paulo, Josué Ramos (PR) foi convidado pelo partido a fazer um curso de marketing político na capital.

“Foram apenas dois dias, mas aprendi muito”, diz Ramos. Assim como Plácido Filho, ele aprendeu com marketing eleitoral a importância do planejamento. “Em 2008 lancei a candidatura de última hora, em junho, não fiz coligação. Desta vez vou sair em aliança com quatro partidos e mais de 30 candidatos a vereador”, afirma.

Por orientação do instrutor, Ramos fez contatos com jornais locais e contratou um serviço de pesquisa que vai orientar a agenda e afinar o discurso de campanha.

Depois do curso, ele também fechou com assessores que vão cuidar das formalidades e contratar os serviços para a candidatura enquanto ele faz a política corpo a corpo:

“Agora não vou mais ter tempo de fazer curso, tenho que começar a trabalhar nas ruas”.

“Grande eleição”

Em 2008, o gasto médio de campanha declarado à Justiça Eleitoral foi de R$ 68,8 mil, para prefeitos, de acordo com números do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As campanhas para vereadores custaram, em média, R$ 1.833.

Mesmo com orçamentos mais modestos, as eleições municipais são a grande mina de ouro para quem presta serviços aos políticos – foram 345.771 candidatos em 2008 e o esperado é que esse número cresça em 2012.

“O mercado tem capacidade para atender entre 30% e 40% dos candidatos, talvez, nem isso”, estima o consultor Aurízio Freitas, diretor da Abcop (Associação Brasileira de Consultores Políticos).

Na trilha dos consultores de marketing e imagem, gráficas, agências de publicidade, empresas de softwares e webdesigners lançam produtos exclusivamente para candidatos.

Freitas organizou em abril o 10º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais em Fortaleza, cuja maior atração foi uma feira de negócios que atraiu cerca de 600 pessoas.

“Um colega saiu daqui com 25 jingles encomendados só num fim de semana”, afirma Freitas. “Um volume de negócios muito maior começa em junho, quando as candidaturas são registradas e ganham um CNPJ.”

De acordo com Carlos Manhanelli, também diretor da Abcop e consultor de campanhas majoritárias estaduais, consultores da associação chegam a dar 15 cursos preparatórios em ano de eleições municipais, principalmente para candidatos em cidades médias e pequenas.

“Acho que o marketing nesses casos é talvez até mais importante que em grandes campanhas, quando se pensa em estratégias de comunicação de massa. A política se vive mais intensamente nas pequenas localidades, e a decisão do eleitor é melhor informada”, afirma.

 Fonte: UOL

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