No Dia do Obstetra, médico do HDM/IMIP fala sobre os benefícios do parto normal

Por Ricardo Banana
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O Dia do Obstetra é comemorado em 12 de abril e para homenagear esse profissional médico que é responsável pela saúde das gestantes e dos recém-nascidos, o Hospital Dom Malan/IMIP de Petrolina preparou uma entrevista que aborda o nascimento natural e fisiológico da criança. Para esse projeto, o obstetra Heron Sobrinho Silveira trouxe informações sobre os principais benefícios do parto normal para mãe e o bebê, riscos e complicações de uma cesariana, além de muitas dicas para a população. Acompanhe.

Qual a melhor forma de se terminar uma gestação? O que se deve levar em conta para a escolha da via de parto?

O parto normal é o método mais seguro da mulher dar à luz, pois é associado às menores taxas de ocorrência de complicações para mãe e bebê. Ele é um processo normal, fisiológico e para o qual a mulher foi preparada. A escolha da via de parto leva em conta diversos fatores, mas, a princípio, o parto normal é sempre a melhor opção. Os benefícios são muitos e estão relacionados inclusive à diminuição da taxa de mortalidade materna. O bebê tem menores chances de complicações respiratórias, pois o próprio processo de parto o prepara para o nascimento e a mãe, logo após o parto, já está apta a cuidar do seu filho.

Quais são os principais riscos de uma cesariana?

A cesariana está bem associada a uma probabilidade maior de infecções; endometrite, que é uma doença causadora de inflamação na camada que reveste o útero; histerectomia, ou perda do útero; atonia uterina, que é quando o útero não contrai e acontece hemorragia; trombose; tromboembolia, uma condição potencialmente fatal capaz de bloquear as artérias pulmonares com coágulos sanguíneos; maior risco de aderência pélvica e abdominal, que são associadas a quadros de dor, infertilidade e alterações intestinais; e todas as outras complicações que uma cirurgia de grande porte por si só oferece.

É preciso que mais informações sobre os tipos de parto cheguem às mulheres?

O Ministério da Saúde vem fazendo há um tempo um trabalho de conscientização sobre a importância do parto normal sobre a cesárea e os meios de comunicação têm sido muito importantes nesse sentido. A gente percebe que existe um movimento de resgate da cultura do parto natural, mas é muito importante que os sistemas básicos de saúde reforcem essas informações e que as mulheres procurem tirar suas dúvidas durante o pré-natal. Às vezes acontece uma inversão de valores e acredita-se que o parto normal é um processo de adoecimento, pois causa dor, quando na verdade ele é apenas fisiológico. As pessoas precisam entender que a cesariana deve ser sempre um evento de exceção e não uma regra.

Existe uma crença popular de que a cesariana é o método mais resolutivo, isso procede?

A cesariana pode sim salvar vidas, tanto da mãe quanto do bebê, mas isso em situações específicas. Em outros momentos ela pode causar prejuízos. A gente observa um distanciamento das pessoas com relação ao processo de parto. Antigamente as famílias eram grandes e, geralmente, a mulher gestante já tinha acompanhado muitos outros partos. Hoje, algumas vezes, o primeiro término de gestação que a mulher vai ver é o dela própria e isso pode causar ansiedade e alguns medos. Acredito que alguns mitos surgiram dessa falta de contato mais próximo com o processo natural de dar à luz.

Outro fato que considero peculiar é um vício de percepção da população quanto às temidas complicações no parto. Embora bem menos frequente, quando ocorrem durante um trabalho de parto normal, mesmo que a assistência seja perfeita, há uma ideia de que não foi feito o possível. Quando o mesmo evento acontece durante uma cesariana, às vezes, a percepção é de que faz parte da cirurgia, que tudo foi tentado, e, em alguns momentos, isso é reforçado pela mídia.

Quais são as principais contraindicações de uma cesárea?

Existem vários fatores de risco como síndromes hipertensivas, diabetes, alterações de coagulação, maior tendência genética à trombose, etc. Aqui volto a dizer que em muitos momentos a lógica se inverte no imaginário da população. Por exemplo, se a pessoa vai realizar uma cirurgia eletiva e a equipe médica identifica que a pressão está descompensada, o procedimento precisa ser reavaliado. Mas, no caso da gestante acontece o contrário. As pessoas tendem a acreditar que se a grávida está com a pressão alta tem que ser feita a cesariana, e é justamente o contrário. A hipertensão é um fator de risco para qualquer cirurgia, inclusive para o parto cesáreo.

Qual a melhor via de parto em caso de feto morto?

A melhor via de parto nesse caso também é o normal, pois não submete a mãe ao risco da cirurgia. O feto morto dentro da barriga não vai fazer mal físico nenhum à mãe, já que não entra em decomposição enquanto estiver em ambiente estéril. O protocolo indicado é a indução do parto. Caso esse procedimento não evolua de forma bem sucedida, faz-se então a cesariana.

Existe um protocolo que orienta essas decisões?

Sim. Seguimos o Protocolo de Diretrizes Terapêuticas para o Parto Cesáreo do Ministério da Saúde, que é realizado com base em estudos e tem como objeto universalizar a assistência ao parto no Brasil. Todas as medidas são tomadas de forma a beneficiar a população e essas práticas são seguidas no mundo todo.

Quais são os casos em que a cesariana deve ser a primeira escolha?

Quando o bebê está atravessado, ou seja, deitado na barriga, quando a placenta prévia está ocupando o espaço da saída do útero, quando o bebê está de ombrinho, entre outras situações específicas.

Diante de todo o exposto podemos concluir que o processo de trabalho de parto é bem dinâmico?

Sim. Dificilmente conseguimos prever no início do processo qual vai ser o resultado final. Isso quer dizer que não podemos garantir que todo o trabalho de parto vai evoluir de maneira fisiológica e sem intercorrências. Por isso, a gestante deve ser avaliada diversas vezes visando a detecção de eventos anormais. Às vezes um parto normal evolui com complicações e uma cesariana se faz sim necessária. As pessoas só não podem pensar que a tentativa de realização do parto normal foi inútil. Seguir esse protocolo faz parte da assistência.

Algumas mulheres ainda tem receio do parto normal por conta daquele corte efetuado na região do períneo para ampliar o canal de parto?

Em parte. Isso vem mudando. Em décadas passadas essa incisão, chamada de epistomia era um procedimento rotineiro, mas, hoje ele é feito apenas em casos selecionados. Na grande maioria das vezes a mulher não leva corte algum. O que pode acontecer é algum tipo de laceração que é corrigido na própria mesa de parto. E mesmo nas situações em que a epistomia se faz necessária, os possíveis incômodos são infinitamente menores do que os de uma cirurgia de cesárea.

O pós-parto também é diferente nos dois casos?

Completamente. A paciente que teve um parto normal em poucas horas já está se alimentando, levantando, cuidado do seu bebê, sem dor, e podendo voltar às suas atividades mais rapidamente. Na cesárea existe o risco de rompimento dos pontos, de infecção e maior dificuldade de amamentação, por exemplo.

Para concluir, quais são os métodos de auxílio ao parto normal mais utilizados no Hospital Dom Malan?

Temos a fisioterapia, exercícios com bola, participação do acompanhante em todo o trabalho de parto, massagem, métodos farmacológicos e uma grande equipe de assistência, que inclui enfermeiras obstetras, que são profissionais altamente capacitadas para conduzir o parto. Inclusive, a maior parte das nossas enfermeiras obstetras tem mais experiência com o parto normal do que muitos médicos da rede privada de saúde.

Ascom

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