Novos desafios da vida moderna impactam na saúde mental

Por Ricardo Banana
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A saúde mental na infância e adolescência deve ser priorizada, visando prevenir problemas e promover o bem-estar desde cedo. É importante que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de sofrimento psíquico nessa faixa etária, oferecendo suporte e orientação adequados, e a campanha Janeiro Branco é uma oportunidade para aprofundar aspectos e estimular a busca por ajuda profissional, quando necessário.

O psiquiatra da infância e adolescência Bruno Lima, do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (HUCAM-UFES), relata que, atualmente, os principais problemas enfrentados nessa faixa etária são os transtornos do desenvolvimento (como o do déficit de atenção e/ou hiperatividade e o do espectro do autismo), transtornos de ansiedade (como a ansiedade generalizada, a fobia social e a ansiedade de separação)  e transtornos de humor (como a depressão maior e o transtorno bipolar).

Segundo o especialista, os sinais de alerta podem variar de acordo com a condição psiquiátrica de base. Dentre os sintomas mais comuns, destaca-se a dificuldade de concentração, que pode resultar em um desempenho escolar abaixo do esperado, acompanhado de comportamento hiperativo. A irritabilidade crescente também merece atenção, assim como o déficit na interação e comunicação social, que podem estar associados a comportamentos estereotipados e interesses fixos e restritivos.

Além disso, é importante considerar os achados de sensibilidade sensorial, como intolerância a ruídos altos, seletividade alimentar, hiposensibilidade à dor ou hipersensibilidade tátil. A preocupação excessiva e a ansiedade antecipatória também são frequentes e podem ser de difícil controle. Outros indicativos de que algo não vai bem incluem: humor irritado, tristeza, desânimo, falta de interesse pelas atividades habituais, cansaço fácil e baixa autoestima. Alterações no sono e no apetite devem ser observadas atentamente. Como explica o médico, “Se houver muita desesperança, insatisfação com a vida e pensamentos de morte é necessária uma avaliação médica urgente”. E continua: “Sempre que o funcionamento da criança ou do adolescente mudar por um período mais prolongado, havendo uma ruptura da apresentação habitual ou início de sofrimento psíquico, é hora de buscar ajuda de um especialista”.

O psiquiatra alerta que rotina e equilíbrio nas atividades de vida diária são cuidados essenciais para garantir o bem-estar mental de crianças e adolescentes. E recomenda que crianças e adolescentes devem: “acordar e dormir nos mesmos horários todos os dias com tempo suficiente de sono restaurador; evitar exposição excessiva à tela e a jogos eletrônicos; fazer atividade física e/ou esportes diariamente; incentivar as crianças e os adolescentes a saírem do mundo virtual, participando de brincadeiras saudáveis de socialização com seus pares; estimular que os menores tenham tempo diário de estudo na escola e em casa; manter alimentação salutar de preferência com a dieta mediterrânea; não permitir que eles façam uso de álcool ou outros tipos de substâncias psicoativas”.

A aceleração nos processos cotidianos impacta a saúde mental

No mundo contemporâneo, a aceleração nos processos de construção cotidiana tem impactado significativamente a saúde mental. A constante solicitação de respostas imediatas e a urgência dos processos têm moldado uma sociedade de sujeitos de urgência, dificultando a reflexão e o tempo para o ócio criativo. O uso excessivo de telas, em especial dos celulares, tem contribuído para o pensamento acelerado, resultando em situações de estresse e excesso de informação. “O celular, que inicialmente era apenas um telefone móvel, evoluiu para uma extensão da consciência, interferindo na percepção do indivíduo sobre o mundo contemporâneo”, aponta o psicólogo Rodrigo Oliveira, do Hospital Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huol-UFRN).

O uso excessivo de telas e o pensamento acelerado têm gerado preocupações crescentes em relação à saúde mental. A sobrecarga de informações, o estresse e a propagação de notícias falsas têm contribuído para um cenário preocupante. O isolamento social, em tempos recentes, tem sido associado, inclusive, a casos de pessoas que tiraram a própria vida. O psicólogo pondera: “Como é que a gente se cuida? Evitar a tela? Deixar de usar o celular? Vamos precisar ter cada vez mais uma consciência desses processos, porque a consciência leva a uma reflexão e a reflexão vai demandar tempo. E é esse tempo que vai fazer com que o sujeito estabeleça conexões e uma via alternativa a essa aceleração”. Reservar momentos para atividades “analógicas”, como caminhadas ao ar livre, leitura de livros impressos, dança, meditação e uma boa roda de conversa com amigos aliviam essa carga, voltando a vida a um ritmo mais saudável.

Saúde mental em tempos pós-pandemia

As sequelas da pandemia de covid-19 para a saúde mental das pessoas foram muito sérias, ressalta o psicólogo Frederico Gomes e Silva Moreira, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC). O isolamento, a falta de vínculos sociais e a incerteza sobre o futuro desencadearam uma crise de saúde mental em todo o mundo. Observa-se um aumento de patologias relacionadas à ansiedade generalizada e estresse pós-traumático, bem como uma intensificação dos comportamentos de irritação e medo.

O psicólogo alerta que “é importante refletir que a pandemia desencadeou dois movimentos distintos: inicialmente, comportamentos coletivos e sentimento de solidariedade surgiram, porém, ao seu término, houve uma transição para condutas mais individualistas, acompanhadas da sensação de ‘tempo perdido’”. E conclui, “A pandemia despertou a consciência para a necessidade do autocuidado e medidas de segurança coletivas, isso se reflete na imensa gama de conteúdos sobre cuidado com a saúde mental e física que vemos atualmente”.

Como resultado positivo dessa nova realidade, observam-se mais pessoas conscientes da necessidade de contarem com a ajuda profissional para mais saúde. São exemplos a busca maior por terapias psicológicas, práticas integrativas, e, como mente e corpo estão conectados, aumento da procura por academias e esportes ao ar livre, como beach tênis, canoagem, corrida e ciclismo em grupos. Profissionais da medicina, fisioterapia, psicologia, nutrição, educação física, entre outras especialidades, têm se aperfeiçoado para atender as novas demandas. E você, que hábitos vai melhorar?

A terceira e última reportagem da série “Mente Sã, Corpo São” vai abordar a importância do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, bem como destacar iniciativas desenvolvidas pelos Hospitais Universitários Federais (HUF), vinculados à Ebserh, que visam cuidar da saúde mental dos seus trabalhadores.

Com informações da Ascom Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

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