Sertão

PALMA FORRAGEIRA ADENSADA E IRRIGADA

Do engenheiro agrônomo e pesquisador da EMPARN / EMBRAPA, Guilherme Costa Lima, a coluna recebeu correspondência em que ele narra o sucesso de experiências que vêm sendo feitas com a cultura irrigada de palma forrageira na região Central do Rio Grande do Norte que, como se sabe se constitui numa das zonas mais desafiadoras do nosso território para a formação de reserva alimentar para os rebanhos nos longos meses de verão.

Como o tema é de extrema importância para a sobrevivência e até para a possível melhoria das práticas agropecuárias no semi-árido potiguar, a coluna retransmite aos leitores, na íntegra, o texto de Guilherme:

Prezado Marcos,

Considerando os meus 30 anos de pesquisas, andanças e observações sobre a produção de forrageiras em nosso semi-árido, acreditava ser fácil responder com um categórico NÃO à seguinte pergunta: existe alguma forrageira capaz de alcançar produção de matéria verde superior a 600 toneladas por hectare/ano, em solos de tabuleiro, na região do Cristalino?

Nossa negativa levaria em conta que o maior registro de produção que obtivemos, em outro tipo de solo, foi da ordem de 300 toneladas por hectare/ano com capim-elefante irrigado, com adubação pesada (química e orgânica), em seis cortes com intervalos de 60 dias.

Os registros obtidos pelo IPA (Instituto de Pesquisa Agronômica), em Pernambuco, em décadas de pesquisa, apontam para produções de palma, adensada e adubada, da ordem de 300 toneladas de matéria verde em dois anos. Reforçam os argumentos da impossibilidade, a fragilidade dos solos de tabuleiro, reconhecidos como os mais rasos, pedregosos e com poucas aptidões agrícolas reconhecidas.

Na última sexta-feira, atendendo a uma solicitação do Banco do Nordeste, visitamos — com uma equipe de pesquisadores da EMPARN — as experiências desenvolvidas pelo agrônomo Alexandre de Medeiros Wanderley, com o cultivo irrigado e adensado da palma forrageira gigante nos municípios de Lajes e Angicos. Nossa tarefa: a estruturação de um projeto de pesquisa com recursos garantidos pelo Banco, para validar, ou não, os resultados obtidos com a tecnologia em avaliação e, a partir destas comprovações científicas, garantir a abertura das portas dos financiamentos oficiais.

O que vimos e ouvimos sobre as experiências realizadas realmente abalaram nossas certezas de uma forma positiva. Os plantios de palma, realizados em altas densidades (de 50 a 100 mil plantas por hectare – 2,0 x 0,10 e 1,0 x 0,10m), com irrigação por gotejamento de pequena intensidade (5 litros por metro, a cada 15 dias) e fertilização orgânica e química, alcançaram, segundo o agrônomo, não apenas 600 toneladas/hectare no primeiro ano de cultivo, mas rendimentos de 800 toneladas e até superiores a mil toneladas por hectare.

Alguns críticos de plantão apontam a inadequação da irrigação para uma cultura xerófila de reconhecida adaptação ao semi-árido e antecipam como inviáveis os altos custos de implantação da tecnologia, da ordem de 11 mil reais por hectare. Mesmo considerando que diversas variáveis precisam ser pesquisadas e confirmadas — principalmente em relação à sustentabilidade da tecnologia e viabilidade econômica, assim como na otimização da irrigação, fertilização, regime de cortes, entre outros — os resultados preliminares obtidos podem ser considerados revolucionários, em termos de oportunidades para a pecuária regional.

Vale ressaltar, ainda, que diferentemente dos semi-áridos de Pernambuco e Alagoas, a palma não tem bom desempenho nas áreas mais secas e baixas do Rio Grande do Norte, e mesmo os 160 cultivares aqui introduzidos pela EMPARN, oriundos de zonas desérticas do México, não obtiveram boa adaptação nessas regiões. Quanto aos custos, embora elevados, vale lembrar que um quilômetro de cerca para criação de caprinos e ovinos custa cerca de R$ 5 mil e que os rendimentos obtidos, caso comprovados, seriam suficientes, associados ao feno de pastos nativos, para manter 50 vacas ou 500 ovinos por dez meses de seca, com um único hectare da cactácea.

Quando se agrega a esses fatos as informações de que a maioria dos abatedouros de caprinos e ovinos do Estado se encontra fechada pela falta absoluta da garantia de oferta de animais; que existe uma enorme demanda nacional e internacional por esses produtos; e que o preço pago na região para borregos precoces já atinge R$ 8,20/kg, tem-se uma pequena idéia da dimensão que esse negócio pode alcançar.

Outra abordagem da pesquisa deverá englobar a avaliação dos custos de produção e qualidade nutricional de concentrados energéticos produzidos a partir da desidratação da palma. A energia da palma é comparável à do milho e, mesmo possuindo 90 por cento de água, com um rendimento de 800 toneladas/hectare seriam viabilizadas 80 toneladas de matéria seca por hectare, quando o milho irrigado chega a alcançar produções da ordem de 8 tonelada/hectare em um cultivo.

Todos temos consciência de que os atuais preços dos grãos, em particular do milho e da soja, estão inviabilizando a pecuária no Nordeste, e de que esse cenário só apresenta tendência de piorar. Produtores do Sertão Central e da Paraíba já estão produzindo, de forma rudimentar, o farelo da palma a um custo aproximado de R$ 0,10 a 0,20/kg, quando hoje o milho da CONAB (subsidiado) custa R$ 0,50/kg.

Mesmo cientes de que a irrigação não representa a solução para muitos produtores, de nossa parte o desafio está aceito. E a EMPARN pretende se incorporar, como um pequeno elo agregador, nessa cadeia que já conta com as valorosas atuações do Sebrae/RN, da ACOSC (Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Sertão do Cabugi), da APASA (Associação dos Pequenos Agropecuaristas do Sertão de Angicos) e EMATER. Procuraremos contribuir para formar um grupo de pesquisa forte, contando ainda com a colaboração da EMBRAPA, do IPA e universidades como a UFRN, UFERSA e Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Fonte: Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Sertão do Cabugi

Blog do Banana

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