PALMA FORRAGEIRA ADENSADA E IRRIGADA

Por Ricardo Banana
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Do engenheiro agrônomo e pesquisador da EMPARN / EMBRAPA, Guilherme Costa Lima, a coluna recebeu correspondência em que ele narra o sucesso de experiências que vêm sendo feitas com a cultura irrigada de palma forrageira na região Central do Rio Grande do Norte que, como se sabe se constitui numa das zonas mais desafiadoras do nosso território para a formação de reserva alimentar para os rebanhos nos longos meses de verão.

Como o tema é de extrema importância para a sobrevivência e até para a possível melhoria das práticas agropecuárias no semi-árido potiguar, a coluna retransmite aos leitores, na íntegra, o texto de Guilherme:

Prezado Marcos,

Considerando os meus 30 anos de pesquisas, andanças e observações sobre a produção de forrageiras em nosso semi-árido, acreditava ser fácil responder com um categórico NÃO à seguinte pergunta: existe alguma forrageira capaz de alcançar produção de matéria verde superior a 600 toneladas por hectare/ano, em solos de tabuleiro, na região do Cristalino?

Nossa negativa levaria em conta que o maior registro de produção que obtivemos, em outro tipo de solo, foi da ordem de 300 toneladas por hectare/ano com capim-elefante irrigado, com adubação pesada (química e orgânica), em seis cortes com intervalos de 60 dias.

Os registros obtidos pelo IPA (Instituto de Pesquisa Agronômica), em Pernambuco, em décadas de pesquisa, apontam para produções de palma, adensada e adubada, da ordem de 300 toneladas de matéria verde em dois anos. Reforçam os argumentos da impossibilidade, a fragilidade dos solos de tabuleiro, reconhecidos como os mais rasos, pedregosos e com poucas aptidões agrícolas reconhecidas.

Na última sexta-feira, atendendo a uma solicitação do Banco do Nordeste, visitamos — com uma equipe de pesquisadores da EMPARN — as experiências desenvolvidas pelo agrônomo Alexandre de Medeiros Wanderley, com o cultivo irrigado e adensado da palma forrageira gigante nos municípios de Lajes e Angicos. Nossa tarefa: a estruturação de um projeto de pesquisa com recursos garantidos pelo Banco, para validar, ou não, os resultados obtidos com a tecnologia em avaliação e, a partir destas comprovações científicas, garantir a abertura das portas dos financiamentos oficiais.

O que vimos e ouvimos sobre as experiências realizadas realmente abalaram nossas certezas de uma forma positiva. Os plantios de palma, realizados em altas densidades (de 50 a 100 mil plantas por hectare – 2,0 x 0,10 e 1,0 x 0,10m), com irrigação por gotejamento de pequena intensidade (5 litros por metro, a cada 15 dias) e fertilização orgânica e química, alcançaram, segundo o agrônomo, não apenas 600 toneladas/hectare no primeiro ano de cultivo, mas rendimentos de 800 toneladas e até superiores a mil toneladas por hectare.

Alguns críticos de plantão apontam a inadequação da irrigação para uma cultura xerófila de reconhecida adaptação ao semi-árido e antecipam como inviáveis os altos custos de implantação da tecnologia, da ordem de 11 mil reais por hectare. Mesmo considerando que diversas variáveis precisam ser pesquisadas e confirmadas — principalmente em relação à sustentabilidade da tecnologia e viabilidade econômica, assim como na otimização da irrigação, fertilização, regime de cortes, entre outros — os resultados preliminares obtidos podem ser considerados revolucionários, em termos de oportunidades para a pecuária regional.

Vale ressaltar, ainda, que diferentemente dos semi-áridos de Pernambuco e Alagoas, a palma não tem bom desempenho nas áreas mais secas e baixas do Rio Grande do Norte, e mesmo os 160 cultivares aqui introduzidos pela EMPARN, oriundos de zonas desérticas do México, não obtiveram boa adaptação nessas regiões. Quanto aos custos, embora elevados, vale lembrar que um quilômetro de cerca para criação de caprinos e ovinos custa cerca de R$ 5 mil e que os rendimentos obtidos, caso comprovados, seriam suficientes, associados ao feno de pastos nativos, para manter 50 vacas ou 500 ovinos por dez meses de seca, com um único hectare da cactácea.

Quando se agrega a esses fatos as informações de que a maioria dos abatedouros de caprinos e ovinos do Estado se encontra fechada pela falta absoluta da garantia de oferta de animais; que existe uma enorme demanda nacional e internacional por esses produtos; e que o preço pago na região para borregos precoces já atinge R$ 8,20/kg, tem-se uma pequena idéia da dimensão que esse negócio pode alcançar.

Outra abordagem da pesquisa deverá englobar a avaliação dos custos de produção e qualidade nutricional de concentrados energéticos produzidos a partir da desidratação da palma. A energia da palma é comparável à do milho e, mesmo possuindo 90 por cento de água, com um rendimento de 800 toneladas/hectare seriam viabilizadas 80 toneladas de matéria seca por hectare, quando o milho irrigado chega a alcançar produções da ordem de 8 tonelada/hectare em um cultivo.

Todos temos consciência de que os atuais preços dos grãos, em particular do milho e da soja, estão inviabilizando a pecuária no Nordeste, e de que esse cenário só apresenta tendência de piorar. Produtores do Sertão Central e da Paraíba já estão produzindo, de forma rudimentar, o farelo da palma a um custo aproximado de R$ 0,10 a 0,20/kg, quando hoje o milho da CONAB (subsidiado) custa R$ 0,50/kg.

Mesmo cientes de que a irrigação não representa a solução para muitos produtores, de nossa parte o desafio está aceito. E a EMPARN pretende se incorporar, como um pequeno elo agregador, nessa cadeia que já conta com as valorosas atuações do Sebrae/RN, da ACOSC (Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Sertão do Cabugi), da APASA (Associação dos Pequenos Agropecuaristas do Sertão de Angicos) e EMATER. Procuraremos contribuir para formar um grupo de pesquisa forte, contando ainda com a colaboração da EMBRAPA, do IPA e universidades como a UFRN, UFERSA e Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Fonte: Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Sertão do Cabugi

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15 comentários

Edmilson Cardoso da silva 7 de março de 2017 - 19:50

Muito bom ,hoje moro em são Paulo , pretendo retorna para Bahia,

Tenho um projeto para ser emplantado com palma e sorgo e milho para criar boi e cordeiro confinados , oque vc acha

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JOSE CARLOS 24 de janeiro de 2016 - 20:02

E MUITO BOM E ADMIRO MUITO ESSE INSENTIVO POS NAO ALIMENTAÇAO COM ESSA ECONOMIA ,COMO A PALMA O QUE PRECISA E OS GOVERNOS DE ESTADOS DO NORDESTE TOMAREM VERGONHA E VER COMO SOFRE O CRIADOR DE CAPRINOS E OUVINOS, OS BANCOS SAO MUITOS BUROCRATICOS, OS NOSSOS CRIADORES NAO TEM MUITA INFORMÇAES E FORMAÇOES OS PREFEITOS TAMBEM SAO CULPADOS,POUCOS OLHAM PARA ESSE LADO SO PROMETEM EM CAMPANHAS,MAS FICO COMTENTE COM ESSE DESENPENHO DO SR, GUILHERME PESQUISADOR, EU SEI QUE ESSE TRABALHO É VALIDO PARA TODOS NOS NORDESTINOS QUE GOSTA DE CRIAR SEUS PEQUENOS REBANHOS DE CAPRINOS E OUVINO.EU MORO EM SENTO SÉ NA BA, SOU CRIADOR DE C.E OUVINOS MAS SOFRO MUITO PRA MANTER MINHAS MATRIZES, PRICIPALMENTE POR TRABALHAR SEM LINHAS DE CREDITOS,CRIO POR QUE GOSTO PRICIPALMENTE DE OUVINOS,ABRAÇOS.

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carlos andré 7 de setembro de 2015 - 0:49

Olá boa noite, sou engenheiro agrônomo e tenho uma área de palma forrageira orelha de elefante mexicana, com cladodios bastante vigorosos e livre de cochonilha de escama, preço a combinar. Caso queira entrar em contato: carlosandre08_@msn.com

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daniel santana 28 de agosto de 2015 - 18:35

Caro Sr. Vigoberto, vi seu comentário sobre palma adensada e irrigada, onde o senhor esclarece que estava plantando de forma adensada o cultivar “orelha de elefante”. Vez que este é o cultivar do momento em Pernambuco, gostaria de saber do senhor qual o espaçamento que o senhor está usando? Vi relatos de 2 x 0,1 para palma redonda. Será que na palma orelha de elefante também se pode usar esse espaçamento? Agradeço a resposta do Sr. Vigoberto e de mais algum colega que possa ajudar.
Contato: danielcle1996@yahoo.com.br
att.,
Daniel Santana

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Vigoberto Alves de Aquino 16 de maio de 2015 - 7:55

Caros amigos, leitores. Já cultivamos a palma super-adensada a mais de 10 anos. Temos experiência na área e estamos querendo difundir nossa tecnologia. Produzimos acima de 400 toneladas/ha/ano e estamos trabalhando, atualmente, com a variedade conhecida como “orelha de elefante”. Temos uma área de 25 ha com palma e já testamos a produção de farelo. Estamos com testes em engorda de ovinos, apenas com palma e derivados dela. Em nossa área de atuação não utilizamos irrigação na palma e fazemos apenas um corte por ano. Contatos. mr_vigor@hotmail.com. Bom trabalho para todos e parabéns pela matéria.

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luciomicheklibrito 9 de dezembro de 2014 - 0:53

Por favor informem o e-mail do Engº Agrônomo Alexandre Wanderley. Obrigado
Grato amigos.
Dr.Lúcio Micheli Brito
OAB-MG-80.301

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edmundo damiao de santana 14 de outubro de 2014 - 20:03

eu tinha conecimento de trabalho de informaçao desta natureza nordeste precisa de homens diferente na fretes dos governos de todas estencia publicas para que nos sertanejos poça viver com comdiçoes melhores.

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Rubens Cunha 22 de agosto de 2013 - 6:32

Por favor informem o e-mail do Engº Agrônomo Alexandre Wanderley. Obrigado.

Responder
Dr.Lúcio Micheli Brito 9 de junho de 2013 - 15:42

Boa Tarde amigos do Blog do Banana?
É muito satisfatório temos este espaço aqui na NET para expôrmos sobre os nossos problemas de nossas regiões.
Um Espaço aberto aqui, agora para tirarmos as nossas dúvidas com amigos que intendem do que estamos falando porque já vivênciaram esse nosso Problema.
Dr.Guilherme da Costa Lima?
Boa Tarde?
Estou pensando em Plantar uma roça de “Palma” e outra de “Napier”.
Já mandei arar e gradiar uma área de (Três-3) tarefas para o plantio da Palma e Três-3) para o plantio de uma roça de Napier.
Dr.Guilherme da Costa Lima o senhor poderia me fornecer um contato seu para falarmos por email ou Tel-(Fixo) e Cel-(?)
Grato amigo.
Abraços.
Dr.Lùcio Micheli Brito.
OAB-MG-80,391
-ADVOGADO-
Meus contatos:
http://www.luciomichelibrito@yahoo.com.br
Tels fixos:
(73)35251918-(Oi)
(73)3046-0043-(Embratel)
Tels Celulares:
(73)8845-0330-(Oi)
(73)9112-1759-(Tim)
(73)81408499-(Claro)
(73)9816-0070-(Vivo)

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Lauro vercelio Bezerra Wanderley 8 de abril de 2013 - 8:23

Qual a rasão dessas alternativas não ser mais divulgadas e porquê os governos não já tomaram providencias para que isso tivese sido disceminado e o sertaneja não está passando por este prejuiso incalculavél mais uma vez? Se atitudes concretas e não paliativas, fossem tomadas o Nordeste seria outro. Divulgem essas pesquisas através de videos e no face book. O povo terá mais acesso e tenho conhecimento poderá cobrar mais dos governos..

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JUSCELINO DA ROCHA SANCHES 7 de abril de 2013 - 22:35

GOSTARIA DE TER MAIS INFORMAÇÕES SOBRE FARELO DE PALMA E QUAL A QUANTIDADE PARA O ANIMAL

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João Carvalho Sá 29 de março de 2013 - 8:18

Gostaria de saber quantas vezes se pode irrigar a palma? já que muitos falam que com muita agua, a palma azeda

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Valdemar Justo Rodrigues de Melo Junior 12 de dezembro de 2012 - 16:14

Amigos, boa tarde! gostaria de saber se já existe algum livro/livreto sobre o assunto, concentrados energéticos produzidos a partir da desidratação da palma, caso haja gostaria de saber onde posso adiquirili. Sem mai obrigado.
Att., Valdemar de Melo.

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Gilmario Oliveira 31 de maio de 2012 - 23:01

Gostaria de ter informações sobre o farelo de palma, como faze-lo valor nutritivo ,rendimento e volume a ser usado.

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Luis Pedreira 12 de maio de 2012 - 15:23

Fantastico voçê viabilizar essa materia para nossa informação, se os governos estadual e federal tivesse competencia implantaria essa tecnica doando palma aos agricultores e não milho e feijão que quase sempre perdem por falta de chuva, com gotejo a água seria pouca e se implantaria facil para mudar a cara de toda região. Parabens Banana. Luis Pedreira

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