Professor envia resposta sobre acusação de preconceito eleitoral a aluno em plena sala de aula em Juazeiro-BA

Por Ricardo Banana
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O professor do Colégio Estadual Cecílio Matos, na cidade baiana de Juazeiro, confeccionou um nota resposta para rebater o aluno que afirma ter sido expulso por ele da sala de aula e chamado de ‘burro’, por defender o nome do deputado Jair Bolsonaro. Confira a íntegra da nota do educador Antônio Carvalho.

“Ainda vivemos em uma sociedade extremamente desigual e opressora. Diversos grupos no mundo são constantemente violentados por uma política de extermínio dos diferentes. O racismo, o machismo, o sexismo e a homofobia são manifestações contemporâneas desse estado de violência. O Nazismo e o Fascismo foram movimentos históricos que funcionaram segundo essa premissa de eliminação do ser diferente”.

“No Brasil é cada vez mais urgente e necessário que combatamos essa onda conservadora que apresenta as violências aos nossos jovens de forma sedutora. O Bolsonaro tem funcionado como um disseminador de ataques violentos aos LGBTs, mulheres, negros/as, periféricos/as, indígenas e quilombolas. Aquele que está no parlamento para defender o povo é protagonista na disseminação do ódio”.

“O dia 08 de março é uma data muito importante para o Colégio Cecílio Mattos, nós estávamos todas/os mobilizadas/os nos debates sobre as diversas formas de violências enfrentadas pelas mulheres. Foi um dia de luta, comemoração e muita aprendizagem. A noite ministrei as primeiras duas aulas com os/as alunos/as do 3º ano médio, antes de fazermos o momento coletivo programado pela escola em decorrência do dia das Mulheres. Minha aula era sobre direitos humanos, algo extremamente relacionado com a já referida data, enquanto eu lia a Carta Universal dos Direitos Humanos e contextualizava seus artigos com as políticas públicas desenvolvidas em nosso país, um grupo de alunos começou a gritar Bolsonaro 2018”.

“Não é a primeira vez que esse tipo de manifestação acontece em nossas salas de aula. Parei o que estava dizendo e voltei-me para os referidos alunos na tentativa de travarmos um diálogo sobre aquele tipo de manifestação. Os disse que era muito perigosa aquela apologia, especialmente naquele dia tão especial para a luta das mulheres. Falei sobre o incidente, nacionalmente conhecido, onde em um debate, com a também parlamentar Maria do Rosário o Bolsonaro fez apologia à cultura do estupro, afirmando que algumas mulheres mereciam tal ato de violência. Isso não foi suficiente para que o aluno reavalia-se seu ponto de vista. Ele insistiu na provocação, sem nenhum argumento coerente, diga-se de passagem. Uma série de outras informações foram por mim colocadas, em um determinado momento eu disse que o Bolsonaro era um burro, um ignorante, um fascista, e quem pensava como ele era tanto quanto. Na existência do debate sobre estupro e mulheres, eu perguntei ao aluno que tipo de macho ele era, no gesto de afronto ele me disse que era do tipo alfa. Foi então que eu pedi que o mesmo se retirasse da sala e fosse conversar com a coordenação pedagógica. Não o expulsei da minha sala, fiz o procedimento padrão de resolução de conflitos estabelecidos pela escola.

Nossa sociedade deve repudiar qualquer forma de violência, não devemos enquanto educadores permitir apologias ao estupro em nossos ambientes pedagógicos. Eu Antonio Carvalho do Santos Junior, professor, mestre em educação, negro, periférico, gay e vítima de tentativa de estupro ainda quando criança não posso me omitir diante de tais cenas apologéticas.

Gostaria de dizer a todos as/os cidadãs/os da cidade, que tenho devotado minha carreira docente a ensinar outras posturas possíveis no mundo, onde homens e mulheres sejam livres de todas as formas de violências. Em tempo que peço desculpas ao meu aluno por ele ter se sentido ofendido com minha abordagem, essa nunca foi a intenção. Meus anos de docência no Cecílio Mattos tem sido de muito aprendizado e afeto, sei do imensurável valor de todos/as os/as que compõem aquela unidade de ensino, e os respeitos nas suas diferenças e particularidades”, escreveu o professor.

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