Que “jeitinho”?

Por Ricardo Banana
A+A-
Reset

Sem títuloA resposta mais comum para explicar qualquer ato antiético no Brasil é que somos providos do “jeitinho brasileiro”. Algumas pessoas veem essa denominação com certo humor e outras com certa repulsa ao tal “jeitinho”, por ser, segundo estes uma forma degenerada de agir. Contudo, fica à questão: o brasileiro tem, de fato uma maneira específica de comer atos corruptivos, diferente da maneira de ser antiético das pessoas de outros países? É o que dá a entender quando a expressão de um tal “jeitinho” é usada. Particularmente, não acredito que nenhuma sociedade crie uma forma exclusiva de praticar irregularidades, muito menos existe uma sociedade que cometa-as de uma forma mais repugnante que as outras, afinal, toda sociedade têm suas contradições. Acredito que, a expressão “jeitinho brasileiro” é mais uma das várias formas de desvalorização da nossa cultura e consequentemente supervalorização da cultura de outros países. O que a Antropologia chama de etnocentrismo invertido. Na China, EUA e em qualquer país, as pessoas furam filas, vendem seu voto, entre outras coisas antiéticas, pode até ser que em alguns lugares estas coisas sejam mais rotineiras que em outros, mas no caso específico do Brasil, deve se levar em conta uma série de fatores externos que engendram tal problemática, como o fato de sermos um país jovem e a falta de investimento na Educação. Tendo em vista todo esse arcabouço de desvalorização cultural, pensei que poderíamos dar um novo significado à expressão “jeitinho brasileiro”. Ora, um país que através de diversos movimentos conseguiu vencer vários momentos adversos merece não uma expressão para o degenerar e rebaixar seu povo, mas,uma expressão para engrandecê-lo. Eu conheço, por exemplo, o “jeitinho brasileiro” que desde o início lutou até onde pode contra à dominação portuguesa; conheço também o “jeitinho brasileiro” que lutou pela independência do país contra esses mesmos portugueses; conheço o “jeitinho brasileiro” dos movimentos negros que lutaram pela abolição da escravidão e até hoje lutam pela equidade social; conheço o “jeitinho brasileiro” que foi as ruas pelas “Diretas Já” que pintou a cara e pediu o impeachment do Collor, como conheço o “jeitinho brasileiro” que elegeu um operário presidente da república. Não posso esquecer, claro, da doméstica, do catador(a) de papelão, do pedreiro, do gari e demais trabalhadores que ganhando menos de um salário mínimo e com o “jeitinho brasileiro” sustentam suas famílias. Sou um admirador do “jeitinho brasileiro” de sorrir mesmo na adversidade, de levantar de cabeça erguida a cada queda, sou um admirador do “jeitinho” que o brasileiro tem, e esse sim é exclusivo, só nosso, o de resistir.

Por: Silas Souza Savedra- Graduando em Ciências Socias pela UNIVASF

Blog do Banana

Related Posts

Deixe um comentário