Resistência à crise é limitada, diz Dilma

Por Ricardo Banana
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A capacidade brasileira de resistir à crise financeira mundial “não é ilimitada”. A constatação é da própria presidente Dilma Rousseff, em declaração à publicação do grupo de pesquisa dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Como outros países emergentes, Brasil tem sido até agora menos afetado pela crise global. Mas nós sabemos que a nossa capacidade de resistir não é ilimitada. Queremos e podemos ajudar, enquanto ainda houver tempo, aqueles países onde a crise já está aguda”, disse a presidente Dilma, que desembarca amanhã, em Nova Délhi, para participar da 4ª reunião dos Brics.

Os cinco presidentes dos países que integram os Brics dão depoimentos para o documento, mas foi a presidente Dilma quem demonstrou maior preocupação com a crise. Em um texto curto, de apenas quatro parágrafos, a presidente citou seis vezes a palavra crise e, dos cinco, foi a única a se referir explicitamente à turbulência internacional. A presidente tem motivos para tanta preocupação. Afinal, o Brasil com o “pibinho” de 2,7% de crescimento em 2011 foi o país que apresentou menor índice entre os cinco. O Brasil também cresceu menos que a média de toda a América Latina, que foi em torno de 4%. “Está claro, agora, que a prioridade da economia mundial deve ser resolver o problema desses países que enfrentam crises da dívida soberana e reverter a maré recessiva atual”, afirmou Dilma no documento. E recomendou: “Os países desenvolvidos devem colocar em ordem políticas coordenadas para estimular as economias que estão extremamente enfraquecidas pela crise”.

A presidente defende no texto um novo tipo de cooperação entre países emergentes e desenvolvidos que possa ser construído com “solidariedade e responsabilidade”. Para Dilma, a solução da crise da dívida precisa ser combinada com crescimento econômico. “O mundo enfrenta uma crise que é ao mesmo tempo de economia, governança e coordenação política. Não haverá retorno para a confiança e o crescimento até que intensifiquemos esforços coordenados entre os membros das Nações Unidas e outras instituições multilaterais. As Nações Unidas e essas organizações devem urgentemente mandar sinais claros de coesão política e coordenação macroeconômica.”

A publicação reúne declarações de outros líderes, como o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, que defende a cooperação na luta contra o terrorismo, extremismo, intolerância e pirataria. Para o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, os países que formam os Brics devem aproveitar cada oportunidade para transformar o mundo atual em “um mundo em que as pessoas não sintam medo do governo e as relações internacionais estejam livres da hipocrisia, um mundo onde será mais fácil e eficiente trabalhar de forma conjunta”.

Temas econômicos e financeiros estarão em pauta na viagem à Índia

A presidenta Dilma Rousseff viajou ontem para Nova Délhi, na Índia, onde participa da 4ª reunião do bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics). Em discussão as questões relativas aos temas econômicos e financeiros, além de políticas de segurança e paz, assim como o esforço conjunto para o desenvolvimento sustentável, como proposta para redução da pobreza. No dia 31, ela deve estar de volta ao Brasil.

Dilma viaja acompanhada por uma comitiva de cerca de 60 empresários brasileiros. Nas reuniões em Nova Délhi estarão presentes também os presidentes Dmitri Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul), e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. O Brics se reúne no momento em que ainda há incertezas devido à crise econômica internacional que ainda causa impactos na Europa e nos Estados Unidos.

Na reunião do dia 29, o primeiro-ministro da Índia se prepara para apresentar a proposta de criação de um banco de desenvolvimento do bloco. Os indianos defendem que a nova instituição bancária seja uma espécie de alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Porém, o processo para criação e consolidação da instituição deve ser longo e demorado, por isso os líderes políticos deverão assinar apenas uma declaração sinalizando a disposição em criar um grupo técnico para dar início aos trabalhos de instauração do banco. Os esforços, segundo os negociadores brasileiros, são mostrar para a comunidade internacional que o bloco pode ser referência no cenário econômico e político (internacional). Todos os líderes dos países querem ampliar as relações comerciais internas e externas incentivando a expansão dos mercados exportadores e importadores.

Para o Brasil, é fundamental indicar que o mercado exportador brasileiro não se limita aos produtos agrícolas. Na comitiva presidencial, há empresários dos mais diversos setores, incluindo tecnologia de ponta. Todos participarão do Fórum Empresarial que reúne representantes dos países que integram o bloco. A intenção é que os presidentes e o primeiro-ministro da Índia assinem uma declaração que fixa a determinação do Brics de ampliar os acordos bilaterais, por intermédio de suas instituições bancárias de desenvolvimento econômico, utilizando moedas locais. No caso do Brasil, o acordo será firmado com o Bndes. Também deve ser aprovado um texto em defesa da paz e da segurança no Oriente Médio e no Norte da África. Os destaques deverão ser a Síria, em decorrência do agravamento da situação de violência no país, e o acirramento das tensões no Afeganistão, depois do massacre de civis por um sargento norte-americano.

Fonte: Jornal do Comércio

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