Suspeita de tráfico de crianças tinha ajudantes para convencer jovens carentes a doar bebês

Por Ricardo Banana
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Mulher foi flagrada por policiais civis quando pegava um recém-nascido na zona sul

A mulher suspeita de tráfico internacional de crianças, presa em São Paulo, na tarde segunda-feira (7), contava com ajuda de outras três mulheres para encontrar adolescentes pobres interessadas em doar suas crianças. A afirmação foi feita nesta terça-feira (8) pelo delegado Márcio Martins Mathias, titular 6ª delegacia do Patrimônio do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

— Ela mantinha contato com essas três aliciadoras para encontrar jovens que tinham dado a luz recentemnte para possivelmente levar os bebês ao exterior e vendê-los a interessados.

De acordo com a polícia, a suspeita, que vive há 17 anos na Itália, chegou ao Brasil em novembro do ano passado com o intuito de adotar uma criança. A mulher acompanhou durante um mês adolescente, 17 anos, e a menina que ficou internada cerca de 15 dias por causa de complicações no pós-parto. A suspeita de tráfico de pessoas, segundo a polícia, convenceu a jovem de que a criança teria uma vida melhor com ela.

Ainda segundo o delegado, a suspeita confessou que realmente queria levar a criança para a Itália. Mas, em depoimento, ela disse que aguardaria no Brasil toda a papelada necessária.

Durante a investigação que resultou na prisão da mulher, o delegado Mathias disse que teve acesso à conversas telefônicas que mostram que a suspeita mantinha contato com pessoas na Itália e o assunto eram sempre bebês. O inquérito, além das provas obtidas pela polícia mineira, vai ajudar o delegado a descobrir se a mulher fazia parte de uma rede de tráfico internacional de crianças.

Carta de agradecimento

Mesmo após saber que o bebê poderia ser vendido na Europa, a jovem contou à polícia que não queria cuidar do bebê porque não tinha condições financeiras.

Em uma carta de agradecimento enviada à suspeita, a adolescente primeiro diz que vai precisar do dinheiro prometida pela suspeita, após a entrega da criança, para comprar “uma bomba para tirar leite do peito”. De acordo com Mathias, a mulher deu R$ 130 à menor de idade.

A jovem também pede para que a mulher cuide bem da filha dela e diz torcer um dia poder saber notícias da criança. As palavras demonstram certa intimidade entre as duas.

– Por favor Maria cuida bem da minha filhinha e tomara que eu entre em contato com você pelo telefone. Maria que Deus te abençoe grandiosamente […]. Eu confio muito em você porque é uma mulher de Deus. Eu vou sentir muito a sua falta e de suas brincadeiras, mas tenho a certeza que vamos nos encontrar algum dia junto com a luz. Eu gosto muito de você e você é como uma tia para mim.

A jovem ainda relata que “vai sentir falta dela [da filha]”, mas não diz que não pode fazer nada, pois não queria ter um filho. A jovem interpretou a gravidez como um “acidente”.

 A prisão

A suspeita, que tem 53 anos, foi flagrada no exato momento em que recebia a recém-nascida “doada” pela adolescente. O delegado contou que o ponto de partida da prisão foi um alerta deflagrado por policiais civis da Delegacia de Montes Claros, em Minas Gerais.

— A equipe de Minas Gerais deu início a uma apuração em março. As denúncias apontavam que uma mulher convencia gestantes em comunidades pobres a entregar o filho com a promessa de dar uma vida melhor para a criança.

A mulher não conseguiu a criança que esperava em Minas Gerais e decidiu então vir para a sul de São Paulo, onde vive a jovem.

A polícia mineira então entrou em contato com a equipe da 6ª Patrimônio, que passou a apurar a ação da suposta aliciadora. Os investigadores acompanharam encontros entre ela e a adolescente durante um mês. Segundo a assessoria do Deic, a mulher teria feito visitas a criança no hospital se passando pela tia da adolescente.

De acordo com a Polícia Civil, a adolescente admitiu que pretendia dar a filha à mulher. A jovem teria revelado o nome de outras pessoas responsáveis por aproximá-la da suspeita. A adolescente, entretanto, negou saber que a criança seria vendida na Itália. A mulher de 53 anos afirma ter residência naquele país e uma casa no Jardim Imperador, na zona leste. O dinheiro para se manter em São Paulo seria remetido pelo marido italiano.

A mulher foi autuada por por subtração de criança. Já a adolescente foi encaminhada à Fundação Casa por entregar o filho a terceiros. O Conselho Tutelar ficou responsável pela criança. As investigações prosseguem com o objetivo de identificar outros possíveis envolvidos, segundo a assessoria de comunicação do Deic.

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