A cobertura do JN foi tão rasa quanto um riacho seco

Por Ricardo Banana
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Uma equipe de reportagem da rede Globo de Televisão esteve nessa terça 24 em Casa Nova BA. Os jornalistas do quadro JN no Ar foram até os lugares mais castigados pela seca para mostrar aquilo que os moradores do local já estão cansados de saber. Ou seja, que as secas são cíclicas, vem e vão em espaços determinados de tempo, mas entra e sai governo e nada muda. A última das grandes estiagens foi em 1982. Mas o Jornal Nacional não lembrou esse episódio, ou porque não sabia, ou porque sua cobertura da seca é tão rasa quanto um riacho seco.

O quadro JN no Ar, que tem como logomarca um avião, acaba servindo para reforçar estereótipos do rincões do país. No nosso caso, a imagem reproduzida e batida de que não passamos de um monte de sofredores, esfomeados e sedentos. E, ao que depender da cobertura que foi exibida na última terça, vamos continuar assim por muito tempo ainda.

O maior telejornal do Brasil esqueceu de informar que dias antes da produção de sua matéria, a Diocese de Juazeiro, e cerca de vinte organizações, incluindo sindicatos de trabalhadores rurais, escreveram uma carta aberta à sociedade. No documento esclarecem que por mais longo que seja o período sem chuvas é possível conter e muito seus efeitos. As organizações que trabalham para a convivência com Semiárido, como o Instituto da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), esclarecem na carta que carro pipa sozinho não vai resolver o problema. Prevenir não é o melhor remédio?

Para os atuais governantes parece que não. Caro leitor, você já assistiu a notícia que no Alaska alguém morreu de fome ou sede por causa da neve? E por quê no Semiárido brasileiro as pessoas precisam sofrer tanto por causa da seca? Justamente por isso: porque nenhum governo até hoje fez nada de realmente eficaz para prevenir os males da estiagem. O JN não lembrou de mais essa. E não informou também que uma das únicas medidas eficazes, defendida por organizações populares, a criação de cisternas de placa, foi cancelada. Agora os reservatórios são de plástico que derrete sob o sol escaldante do sertão. Esqueceu de dizer que a obra de Transposição do rio São Francisco subiu, em ano de eleições, para 8 bilhões de reais, enquanto o Ministério da Integração diz que só com dinheiro do PAC poderá construir uma adutora em Casa Nova. Que agora cursos que duravam 16 horas sobre como cuidar da água são oferecidos em quatro.

O Jornal Nacional, a prata da casa global, esqueceu de informa que em Casa Nova há um grande número de pesquisas sendo feitas a mando de empresas mineradoras. Ora, se no lugar a água já insuficiente, o que vai sobrar quando essas empresas começarem a usar os recursos hídricos para limpar minérios? O JN nem sequer nos perguntou. Talvez esteja mal informado. Ou talvez porque empresas de mineração, com a Vale do Rio Doce, que injeta milhões de reais nos bolsos dos Marinhos por meio de publicidade, também já cresceu o olho nos minérios da região.

Então, mais uma vez, apesar do milagre da irrigação que a matéria glorificou, o Jornal Nacional nos mostrou como pessoas sofridas, castigadas pelo sol e pela falta de chuva. Só esqueceu de dizer que o que mais marca o povo sertanejo, que antes de tudo um forte, é a falta de vontade política dos nossos pseudorrepresentantes políticos. Porque a pior seca é a da falta de políticas públicas que dignifiquem homens e mulheres, relegando-os à esmola eleitoral dos carros pipa.

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