Afrocoletividade 2019_ Mês da Consciência Negra

Eis então batendo na nossa porta mais um novembro e, para melhor dizer, mais um novembro negro, que usualmente é marcado por reflexões antirracistas de resistência e resiliência negra, em decorrência principalmente do Dia Nacional da Consciência Negra (20). Essa data foi instituída pela Lei nº 12.519, em 10 de novembro de 2011, pela presidente Dilma Rousseff, como registro e referência ao assassinato, em 1695, de Zumbi dos Palmares, líder quilombola símbolo de luta. No entanto, passados quase oito anos, faz-se os seguintes questionamentos: Por que ainda é necessário bater nessa mesma tecla? Por que ainda é necessário falar sobre racismo e as possíveis estratégias de enfrentamento? A resposta é simples: a desigualdade racial continua firme e forte duelando contra os nossos corpos pretos, e os indicadores de morte e retrocesso estão cada vez maiores e mais violentos.

Para ilustrar melhor a situação, no ano de 2017, em Pernambuco, considerado o terceiro estado com maior homicídio de jovens do país, houve um aumento de 26,2% do número de assassinatos em relação a 2016, sendo que 70% desse percentual constitui-se de jovens negros mortos (Atlas de Violência 2019). Também em Pernambuco, mais mulheres negras estão sendo encarceradas, pois somatizam 81% da população feminina em situação prisional (INFOPEN). No Brasil, ainda, a desigualdade econômica entre brancos e pretos tem desproporções exorbitantes (67% dos negros recebem até 1,5 salário mínimo em contraponto de 45% dos brancos) e estima-se que só haverá uma igualdade de salários em 2089 se a situação brasileira continuar do jeito que está.

Diante desses e de outros dados não citados, mas da mesma forma relevantes, é possível perceber que a atuação antirracista não é efetiva se realizada em apenas um mês do ano; deve haver movimentação contínua o tempo todo! Portanto, como subterfúgio pontual ao combate contra o racismo, a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Núcleo Sertão Petrolina-PE, que já atua cotidianamente nessa luta (através da Roda das Pretas, por exemplo, realizada mensalmente), lança hoje a programação do Novembro Negro na cidade através do Afrocoletividade. Esse projeto surgiu em 2016 a partir do próprio movimento, com a proposta de construir um calendário coletivo, único e permanente de atividades voltadas para a questão negra durante o penúltimo mês do ano, na/para cidade de Petrolina-PE, em parceria com outras instituições e grupos negros. Seu objetivo principal é a unificação de ações para promoção de um evento gratuito e acessível para comunidade atingindo todos os seus níveis e especificidades.

No ano de 2019, o evento abre seu processo de inscrição a partir de amanhã, sábado (02), e conta com oficinas de Hip Hop, automaquiagem, contos e escrita africanas, e trança, além de rodas de conversa, aulas públicas, feira negra e o desfile Beleza Negra. As atividades serão desenvolvidas em várias localidades da região, com o intuito de atingir de fato toda a população. Fazemos o convite a todes para participar e entender que nossa consciência precisa ser preta o ano inteiro!

Texto por Sueleen Souza

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