EDITORIAL: Na cidade banhada por sangue, já não basta empunhar a bandeira da paz

Por Ricardo Banana
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imagemAinda sou do tempo em que o Rio Pajeú tinha águas límpidas e muita gente trocava a novela das nove por uma boa conversa na calçada. Ainda sou do tempo em que o hino nacional era entoado todos os dias na sala de aula. E ainda tenho lembranças que em períodos de forte calor, algumas pessoas dormiam com portas abertas para deixar entrar a doce brisa da madrugada.

Mas, e agora? o que estamos fazendo com o resto das nossas vidas? Os dias 21 e 22 de março ficarão por muito tempo marcados em cada um de nós. Dias de terror e medo. Cinco execuções em tempo recorde. Tiroteios em plena luz do dia, corre-corre pelas ruas e muita sensação de insegurança marcaram cada um de nós, filhos e filhas de Serra Talhada. Na contagem macabra já somam quase 20 mortos em menos de três meses. No imaginário, impossível não recordar os tempos de sangue do passado, onde sair às ruas poderia se transformar em sentença de morte.

Diante este clima, já não basta sair às ruas empunhando a bandeira da paz. Serra Talhada precisa fazer bem mais do que isso. Também não adianta começar a culpar a polícia pela falta de segurança. O olhar tem que ser muito mais profundo do que este. Coincidência ou não, boa parte das execuções possuem algumas afinidades. Entre elas, o álcool, o cenário do bar como pano de fundo, o tráfico de drogas e, por fim, o sentimento de vingança. O olho por olho e dente por dente. Chega!

Defendo, desde já, não apenas o aumento do efetivo policial militar como solução. Acreditem, isto apenas não basta. Não adianta ter polícia nas ruas sem uma operação de inteligência em paralelo. Defendo, inclusive, a tática da “tolerância zero” que foi praticada na cidade de Diadema (SP), quando a população estava acuada. Lá, em Diadema, foi praticado o toque de recolher nos bares que só podiam funcionar até as 22 horas.

Mas só isto não basta. É preciso que o sistema como um todo funcione como uma cadeia de proteção ao cidadão de bem. O prefeito precisa cumprir o que foi anunciado e apressar a instalação do sistema de câmeras de segurança no centro da cidade. A Polícia Civil precisa estar mais aparelhada e melhor remunerada para acelerar os inquéritos nas delegacias e o Judiciário precisa estar em sintonia com os anseios da sociedade.

Não dá mais para olhar para a prateleira da ineficiência do sistema judiciário com processos se acumulando por anos e anos. Não dá mais para olhar, inerte, bandidos e criminosos sendo beneficiados por brechas na lei encontradas por seus “ilustres” advogados. Mas então vem a parte mais importante: Quem são as mentes brilhantes que fazem as leis? Bingo! se você respondeu que são os deputados e senadores acertou em cheio.

Portanto, gente, quem precisa começar a “faxina” somos nós, cidadãos acuados. A repressão vai vir… não tenho dúvidas. Mas será tudo um jogo de cena. Até as coisas esfriarem. Mas a polícia vai continuar frágil, o Judiciário no reino do faz de conta e a lei completa de brechas. Neste ano, não basta ter paz no coração. É preciso ter o cérebro nas urnas e punir os que fazem do Congresso Nacional um grande balcão de negócios. Ainda há tempo. Ainda acredito que posso vir a dormir de portas abertas na minha cidade. (Farol de Noticias)

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