Em PE, mais de 3 mil pacientes esperam por um transplante

Por Ricardo Banana
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O mês de maio é de incentivo à doação de órgãos. Um ato de solidariedade e humanidade, que também pode ajudar a diminuir a dor de quem perdeu um parente. Quem pode doar? Como é a fila de espera de quem precisa de um órgão? E os sentimentos de quem ajudou alguém a seguir com a vida? Durante esta semana, o NETV 1ª Edição vai exibir uma série de reportagens sobre o assunto.

A primeira reportagem mostra o que é preciso para se tornar um doador. A neurologista Renata Azevedo explica que, para doar órgãos ou tecidos, o paciente precisa ser considerado sem vida. “O paciente, do ponto de vista legal, no Brasil, é considerado morto se seu cérebro parar de funcionar de maneira irreversível, porque o cérebro é considerado o controle de tudo. Então, pode doar aquele que é, legalmente, morto, mas que tem seus órgãos funcionando com a ajuda de aparelhos”, disse.

Para isso, a morte encefálica tem que ser confirmada. No país, os profissionais da área de saúde são obrigados a cumprir um rígido protocolo para dar a confirmação desses casos para a família, tornando o diagnóstico seguro. “Esse processo dura seis horas, entre a primeira e a última avaliação. São dois exames clínicos, que testam se os reflexos estão mesmo ausentes, e um exame complementar para confirmar outros dados”, explicou.

De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes, em cada milhão de mortes, apenas seis são encefálicas, cuja definição é a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. Esse dado mostra como é difícil conseguir um doador.

Quando existe a possibilidade e todos os procedimentos são confirmados, é hora de avisar aos parentes. Nesse momento, surge mais um problema: em Pernambuco, 60% das famílias não aceitam a doação de órgãos. “A maior parte das famílias ainda desconhece a vontade do ente em vida. Se você acredita na doação, avise aos seus parentes. Não adianta documento nem carteira de identidade. Isso não tem mais valor nenhum”, avisou a coordenador da Central de Transplante de Pernambuco (CT-PE), André Bezerra.

O CT-PE funciona na Rua Henrique Dias, no bairro da Boa Vista, área central do Recife. O espaço é pequeno, são apenas duas salas. Mas é nesse espaço que está depositada a esperança de milhares de pessoas. Atualmente, no Estado, 3.213 pacientes estão na espera de um transplante. A maioria, 1.855 pessoas, precisa de um novo rim. De córnea são 1.224, de fígado 126, cinco de pâncreas e três de coração.

Quem trabalha no CT-PE acompanha de perto o sofrimento de quem está na fila. “As pessoas precisam entender que, se não estender mão a esses pacientes, nada vai ser mudado na vida deles. Ou eles falecem ou continuam como prisioneiros aqui”, comentou André Bezerra.

Nova vida

Fevereiro de 2010 marcou a vida do agente de Correios Almir Meneses Santos. Nailza Catarine, sua única filha, sofreu um acidente de moto no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. A jovem, que tinha 20 anos na época, foi arremessada, bateu com a cabeça no chão e teve traumatismo craniano. Depois de cinco dias internada, em estado grave, veio a notícia: a morte encefálica foi confirmada.

“A notícia é sempre inesperada. A esperança que a vida exista numa pessoa, um ente querido nosso, é sempre constante. Quando os médicos do Hospital Esperança noticiaram que a minha filha já não tinha vida, havia tido morte encefálica, eu entendi isso como uma notícia não verdadeira. Mas, depois de conversas com a equipe médica e o pessoal preparado, psicólogos para esclarecer que realmente ela já não tinha mais vida, eu fui entendendo, fui assimilando isso aos poucos. Foi então que a equipe de transplante perguntou se eu faria a doação”, disse Almir.

Almir conta que a filha decidiu ser doadora de órgãos depois de assistir a uma reportagem exibida pela TV Globo sobre o caso de Jéssica Kelly. A criança de 10 anos morava em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, e morreu com um tiro na cabeça depois de um disparo acidental, em 2007. Dias antes, a menina disse à avó que, quando morresse, queria doar os órgãos. A família dela atendeu ao pedido.

O agente de Correios tomou a mesma decisão. Na dor, Almir descobriu que a vida pode estar até na morte. Com a doação, uma senhora de 69 anos e uma mulher de 33 receberam as córneas de Naílza. O fígado foi para uma mulher de 20 anos. Os rins, para uma mulher de 35 e um senhor de 59 anos.

“Fui entendendo que isso era necessário e fui favorável. Então, eu diria que não existe mais em mim ou na nossa família tristeza. Existe a saudade. A doação trouxe satisfação, trouxe um consolo, trouxe um conforto. Isso dá para a gente a alegria em saber que outras pessoas estão sorrindo, estão vivendo. Isso nos conforta e nos alegra até”, comentou Almir.

O assunto pode até não ser dos melhores, mas se você pretende deixar um pouco mais de vida, mesmo depois da morte, converse com a sua família. Além disso, ninguém sabe como será o amanhã. Todo mundo tem cinco vezes mais chances de precisar de um transplante, do que ser tonar um doador. Pense nisso! Nesta terça-feira (1°), o NETV 1° Edição vai falar sobre a fila de transplantes.

 Fonte: G1 PE

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