O ser mulher no contexto da tecnologia

Por Ricardo Banana
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O dia Internacional da Igualdade Feminina é celebrado em 26 de agosto, em alusão à luta por equiparação dos direitos civis e sociais do sexo feminino. A data chama a atenção para a busca por independência, liberdade e reconhecimento a fim de que todas as mulheres conquistem direitos iguais aos homens em qualquer área de vivência.

Para celebrar a conquista das mulheres na busca por espaços de igualdade e destaque, a Facape vai contar a história da egressa Thaise Soares Gama de Brito. Ela é graduada do nosso curso de Ciências da Computação e, atualmente, professora da Instituição nos cursos de Ciências da Computação e Gestão de Tecnologia da Informação.

Thaise é Especialista em Gestão de Tecnologia da Informação e, atualmente, conclui um mestrado na área de Engenharia de Software pelo Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife (CESAR School). Com um vasto currículo na área de tecnologia, a mestranda nos conta os desafios de seguir uma carreira tão incomum entre as mulheres, e revela como enfrentou o preconceito e se impôs em sua profissão.

A professora relata que decidiu optar pela carreira de tecnologia, por entender que o ramo era promissor e não teve medo de enfrentar os desafios que surgiriam. Ao ingressar no curso de Ciências da Computação, em 2002, Thaise percebeu, aos poucos, que não seria fácil seguir adiante na área. Durante os anos que estudou na graduação, afirma que demorou um certo tempo para que conseguisse estágio em sua área de formação.

“Eu queria estagiar, na época eu só estudava. Ao procurar estágio já comecei a sentir os desafios que enfrentaria para conseguir uma vaga. Tinha empresa que só contratava homens porque as demandas eram muitas, então consideravam que mulher não tinha perfil para essas atividades. Ainda assim, continuei insistindo e consegui um estágio em 2005, quando já estava no 6º período, após várias tentativas, na esperança de conseguir uma vaga”, expõe a professora.

Em meio aos percalços, Thaise revela que buscava se motivar com os exemplos que encontrava na graduação, através de suas professoras. Para ela, ter professoras mulheres na área, lhe proporcionava um estímulo para continuar e saber que ali, também há espaço para as mulheres.

“Eu me inspirava nas professoras que já davam aula na época em que eu era aluna, professora Vânia que era de física, que já é uma área difícil também para as mulheres, e a professora Celimar da área de tecnologia. De certa forma a posição da mulher como professora, já é um estímulo para continuar”, afirma Thaise.

Ao retornar como professora, Thaise busca incentivar suas alunas da mesma forma que conseguiu apoio e motivação com suas educadoras. A profissional considera ter percebido uma diminuição de meninas nos cursos de tecnologia, quando comparado a sua época. Procura, então, oferecer apoio e atenção as garotas, para que todas entendam que podem e devem seguir na área de tecnologia.

“Na sala eu busco estar sempre próxima as meninas, e eu percebo muitas vezes que elas são mais proativas que os homens, elas têm um bom desenvolvimento na área, entende tudo muito rápido, usam bem a lógica e pegam os assuntos mais rápido. Eu tento incentivá-las para que não desistam e sigam buscando oportunidades na área, mostrando que hoje o mercado está mais aberto e mais abrangente, com muito mais oportunidades. E busco prepará-las para enfrentarem o preconceito como eu enfrentei, porque ainda existe”.

Se as dificuldades enfrentadas pela professora na época de sua graduação eram grandes, a mestranda e docente mostra que hoje ela é muito maior que todas as desigualdades sofridas. Thaise foi aprovada no concurso para professor substituto da Facape duas vezes consecutivas, nos anos de 2014 e 2017, ambas as seleções, a professora foi aprovada em 1º lugar. Leia agora a entrevista na íntegra com Thaise Soares Gama de Brito.

Como foi a decisão de escolher cursar Ciências da Computação?

Na verdade, cursar computação não era algo que eu via para minha vida. Quando fiz o vestibular em 2002, as coisas eram muito difíceis, a gente não tinha muita oportunidade na região e dentre as oportunidades que tinha, Ciências da Computação era algo que eu via como promissor, como o futuro. A minha escolha foi baseada nesse sentido, escolhendo algo promissor que é o futuro. Desde a época que estudei, o curso tem essa evasão de mulheres, inclusive da minha turma de alunos, apenas duas mulheres concluíram o curso, contando comigo. Outras terminaram algum tempo depois, mas foram poucas.

Você encontrou muitos desafios durante o curso?

Muitos! Vamos começar pelo mercado de trabalho. Eu queria estagiar, na época eu só estudava. Ao procurar estágio já comecei a sentir os desafios que enfrentaria para conseguir uma vaga. Na época tinha empresa que só contratava homens porque atendia muita empresa, aí já achavam que mulher não tinha perfil para essas atividades. Ainda assim, continuei insistindo e consegui um estágio em 2005, quando já estava no 6º período, após várias tentativas, na esperança de conseguir uma vaga. As vagas de estágio que eu encontrava era na área administrativa, inclusive eu entrei em uma empresa antes para estagiar na área administrativa, mas não era o que eu queria, eu entrei para conhecer, mas o que eu queria era trabalhar na área mesmo. Depois disso, em 2005 eu fui aprovada e comecei a trabalhar na área.

Os meninos começaram a estagiar quando?

Bom os meninos começavam a estagiar desde cedo, no 3º/4º período já conseguiam estágio na área. Mas eu insisti muito até conseguir e então entrei na área de desenvolvimento como estagiária de programação e depois que me formei fui contratada pela mesma empresa como funcionária na área de programação e fique na empresa por cinco anos, onde atuei como gerente também.

Quando você iniciou a graduação, quantas meninas tinha na turma?

Tinham muitas, não me lembro ao certo quantas, mas que se formou foi eu e mais uma. Depois formaram mais umas três da minha turma, mas em outro período.

Muitas alunas desistiram na época, em sua turma?

Sim, teve colegas que mudaram para o curso de administração, outras meninas foram para a área de saúde.

E o que elas alegavam quando desistiram do curso?

Que não se identificavam ou a dificuldade de conseguir estágio, principalmente na minha época onde tudo era mais restrito e não tinha muita oportunidade na região nem para os homens, que era já era limitado, pior ainda para as mulheres.

Durante sua graduação, você passou por alguma situação que lhe desmotivasse?

A discriminação existe até hoje, eu mesma passei por isso recentemente em meu mestrado. Além daqui eu sou sócia de uma empresa de tecnologia e enfrento direto essas barreiras sobre gênero. Eu me vejo tendo que conquistar a confiança de clientes e mostrar que sou capaz e estou apta a atendê-los, ainda existe a resistência de que homem entende mais da área que mulher. E recentemente no mestrado, teve um trabalho em equipe e eu era a única aluna mulher do mestrado, aí teve trabalho em equipe e eu passei por uma situação onde todos do grupo receberam uma nota maior que a minha, e a maior parte do trabalho quem fez foi eu. Mas o preconceito já se estende para a ideia de que eu estava encostada nos demais componentes do grupo. Mas eu já estou acostumada com isso e sempre busco enfrentar essas situações que surgem mostrando o que a gente sabe e que somos capazes de fazer, somos competentes.

A partir de sua vivência acadêmica e profissional o que você notou de mudança positiva na área da Tecnologia para as mulheres que estão entrando no ramo?

Como a área vem criando muitas subáreas de atuação, existem muitas áreas que possuem uma visão mais positiva em relação a oportunidade para as mulheres, as empresas começam a perceber a proatividade das mulheres no ramo, e afirmam que em determinadas situações a mulher possui desenvoltura melhor que os homens. Mas ainda prevalece o conceito de que áreas mais técnicas é coisa só de homem. Mas diferente da época que estudei, posso dizer que as oportunidades para as mulheres na área cresceram sim.

Enquanto professora o que busca fazer para estimular as meninas que estão no curso?

Na sala eu busco estar sempre próxima as meninas, e eu percebo muitas vezes que elas são mais proativas que os homens, elas têm um bom desenvolvimento na área, entende tudo muito rápido, usa bem a lógica e pegam os assuntos mais rápido. Eu tento incentivá-las para que não desistam e sigam buscando oportunidades na área, mostrando que hoje o mercado está mais aberto e mais abrangente, com muito mais oportunidades. E busco prepará-las para enfrentarem o preconceito como eu enfrentei, por que ainda existe.

Você nota durante as aulas alguma reação das meninas de desmotivação ou de querer desistir?

Sempre acontece algum caso de aluna achar que não é a área ou que não terá oportunidade e cabe  a nós professores mostramos que elas ainda estão no início. Ainda vão aprender muita coisa e que o mercado, apesar do preconceito, hoje está muito mais abrangente. Então eu mostro as diversas áreas de atuação com oportunidades. É o que eu faço, estimulo e mostro as oportunidades de áreas em que elas podem atuar e como atuar.

Para motivar, é mostrar que é uma área que elas podem atuar. Um fato que podem desestimular as alunas, é entrar em uma turma que só tem homem. Elas se sentem excluídas, como se ali não fosse o lugar delas, por isso é importante a inclusão de fazer amizade, criar vínculos para que elas se mantenham no curso. Por que é difícil para uma mulher se manter sozinha em uma turma de cinco anos somente com homens, então a única forma de permanecer é enfrentando as barreiras. Ela tem que saber o que quer e enfrentar os desafios, mas não podemos negar que causa uma desmotivação.

O que fazer para estimular essas meninas é seguir no caminho de incentivar e mostrar as oportunidades e a presença da mulher como professora já é um estímulo a mais.

Qual a importância da Facape para o seu crescimento como profissional?

Grande importância na minha formação, graças a formação que eu tive pude sair empregada da graduação e dar continuidade a minha carreira acadêmica e profissional. Eu nunca parei de trabalhar, diante de tudo que fiz no mercado de trabalho. A essência veio da Facape. Em relação ao estímulo, eu me inspirava nas professoras que já davam aula na época em que era aluna, professora Vania que era de física, que já é uma área difícil também para as mulheres e a professora Celimar. De certa forma a posição da mulher como professora, já é um estímulo para continuar.

Você acha que esse é o caminho para as mulheres seguirem nessa área?

Sim, é estimular e apoiar e incentivar as meninas, fazendo com que elas sintam que área de tecnologia é sim, área de mulher, que elas podem seguir nesse ramo.

 

Ascom

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