Tema na COP 26, Amazônia é chave para metas

Por Ricardo Banana
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Tema de debates na COP 26, Amazônia é chave para cumprimento das metas climáticas globais

Iniciativa Uma Concertação pela Amazônia apresentará a agenda pelo desenvolvimento da Amazônia na Conferência do Clima, que começa no dia 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia

A COP 26 – 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – começa no domingo, dia 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia, com a expectativa de ser a mais importante edição das COPs desde que o Acordo de Paris foi firmado, há seis anos. Isso porque se espera que esta conferência desate alguns nós fundamentais para que o mundo avance no compromisso principal: fazer com que a temperatura média global não aumente mais de 2°C até o fim do século, com esforços para que essa elevação fique em menos de 1,5°C. E a Amazônia é peça-chave para alcançar essa meta, por sua importância para o equilíbrio climático. Por esse motivo, mas também pelos desafios que enfrenta, o bioma será tema de vários debates na Conferência do Clima.

“Nesta COP, os países precisarão ampliar sua ambição para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar a mudança climática. O senso de urgência nunca esteve tão forte, pois o IPCC, um dos principais órgãos sobre ciência do clima, já alertou, em estudo de 2018, que os impactos esperados em um mundo com aquecimento global de 1.5°C já são suficientemente preocupantes e deveriam mobilizar esforços dos diversos países”, afirma Roberto Waack, um dos fundadores da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, rede que reúne mais de 400 lideranças para criar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

A ciência já apontou que a Amazônia estoca, em suas florestas, 120 bilhões de toneladas de carbono. Portanto, a conservação do bioma é fundamental para evitar a emissão desse carbono, contribuindo, assim, para a mitigação das mudanças climáticas. “A ambição do 1,5°C começa com a Amazônia. Sem ela, não há como avançar e cumprir o Acordo de Paris ou fazer uma transição para um mundo de baixo carbono”, destaca Francisco Gaetani, professor da Ebape/FGV e também integrante da Concertação.

Também deverá ser observada nesta COP uma convergência muito forte entre as agendas de clima e biodiversidade, o que coloca questões como agricultura, floresta e soluções baseadas na natureza em evidência. E cada vez mais está claro que não bastará que os países reduzam emissões, mas que haja iniciativas para remover carbono da atmosfera. As florestas, por sua capacidade de absorver carbono, estão entre as formas mais baratas de se fazer isso.

Todo esse cenário traz a Amazônia para o centro do debate e das soluções climáticas. Uma série de eventos e desafios, no entanto, colocam em risco a integridade e a saúde do bioma, em especial o avanço do desmatamento. “Segundo estudiosos, a Amazônia encontra-se muito próxima do que chamamos de ponto de não retorno, ou ‘tipping point’, quando ela perderá sua capacidade de continuar a prover os serviços ecossistêmicos, incluindo a regulação do clima”, explica Gaetani.

Muitos dos debates que organizações da sociedade civil farão na COP envolvem a temática da Amazônia, em questões que vão de queimadas e desmatamento a discussões de como conciliar produção agropecuária e conservação da floresta. Os temas de financiamento climático para a Amazônia e da destinação de terras, bem com a participação de jovens da região, também estão previstos em painéis e debates.

Por um desenvolvimento da Amazônia 

A Amazônia não é constituída apenas de recursos ou ativos naturais. Ela também abriga uma população diversa e plural, com ricas culturas e diferentes formas de se relacionar com a biodiversidade ao seu redor. São mais de 20 milhões de pessoas, entre povos originários, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, comunidades que se formaram a partir da chegada de migrantes de outras regiões do país, e populações urbanas.

“São várias Amazônias dentro da Amazônia. Enxergamos pelo menos quatro: a das áreas conservadas, a das áreas em transição, a de áreas convertidas e as cidades. É preciso, para cada uma, encontrar caminhos e soluções para que, ao final, seja possível promover a conciliação entre conservação e a qualidade de vida dos habitantes em toda a Amazônia”, afirma Waack.

A Concertação foi criada em 2020 para abraçar o desafio de promover uma ampla discussão entre os diversos atores da região, incluindo populações tradicionais, empresários, pesquisadores, ambientalistas, lideranças sociais, lideranças políticas subnacionais e outros, para contribuir com os esforços de planejamento e propostas de ações pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia.

O resultado foi compilado no documento “Uma Agenda pelo Desenvolvimento da Amazônia”, que a iniciativa está levando à COP 26. No dia 9 de novembro, no Brazil Climate Action Hub, na Blue Zone (área da Conferência reservada para a sociedade civil, incluindo empresas, organizações da sociedade civil, e mesmo governos subnacionais), a iniciativa irá compartilhar o documento com a comunidade internacional, apresentando as muitas Amazônias que existem e a visão da busca por um desenvolvimento próprio para a região.

A mudança do clima, mas não só, é um dos fatores que fortalecem a posição da região como uma peça importante para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento, para o Brasil e para o mundo, pautado no capital natural, na redução das desigualdades e na valorização da cultura. “É preciso levar conservação e prosperidade à região e isso ajudará a Amazônia a seguir desempenhando seu papel-chave para alcançarmos as metas climáticas globais”, conclui Waack.

Sobre a iniciativa Uma Concertação pela Amazônia 

É uma rede de pessoas, entidades e empresas formada para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Hoje, reúne mais de 400 lideranças engajadas em criar um espaço democrático onde as dezenas de iniciativas em defesa da Amazônia se encontrem, dialoguem, aumentem o impacto de suas ações e gerem novas ações em prol da floresta e das populações que vivem na região.

Pecan Comunicação 

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