Domiguinhos, o discípulo que inovou a arte do mestre

Por Ricardo Banana
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O músico José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, de 71 anos, está respondendo “de forma satisfatória ao tratamento médico” e apresentou “melhora no padrão hemodinâmico e respiratório”, de acordo com boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, São Paulo.

O sanfoneiro continua internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. Dominguinhos tem diabetes e luta contra um câncer.

Li este boletim médico. Ele não reflete e não consegue traduzir a comovente forma que estamos perdendo Dominguinhos e suas interpretações. A sensação cada vez mais próxima da viagem ao “sertão da eternidade” do mestre Dominguinhos trouxe-me o ritmo da sanfone sofrida, a saudade, a falta de chuva nos sertões. Precisamente no dia 21 de março de 1957, Dominguinhos começou a gravar em estúdio com Luiz Gonzaga.

Na função de jornalista estive com Dominguinhos em Exu, durante as comemorações dos 100 anos de Luiz Gonzaga. Ali ele lembrou episódios de sua carreira, recordou amigos e mestres.”Agora é que sinto com mais intensidade tudo que cantei e canto. É tudo muito mais bonito agora”, relatou-me Dominguinhos. O sentimento é que o representante maior da música brasileira estava dizendo ser chegada A Hora do Adeus, da triste partida.

Dominguinhos é o discipulo que inovou a arte do mestre. No dia 13 de dezembro ali em Exu, na terra de Januário, pai de Luiz Gonzaga, o mestre Dominguinhos tocou, puxou sanfona, traduziu musical e imagética a própria alma nordestina. Se Luiz Gonzaga interferiu na trajetória da música ao introduzir em todo o Território brasileiro os ritmos do Nordeste – xotes, xamegos, baião, xaxado, é Dominguinhos o responsável em ajudar a plasmar a identidade da música nordestina no imaginário do Brasil.

Com Dominguinhos e sua musicalidade a Sanfona adquiriu nova personalidade sabendo seguir o conselho de Luiz Gonzaga de não esquecer as raizes, o sotaque de nossa terra. Dominguinhos soube criar sua própria arte. Dominguinhos desde a partida de Luiz Gonzaga em 1989 soube multiplicar os admiradores de um Reinado chamado Baião.

*Ney Vital – Jornalista

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