Espaço do Leitor: Charlie Brown Jr, Chorão e a ausência no Pop Rock Nacional

Por Ricardo Banana
A+A-
Reset

Por: Geraldo F. S. Junior

Economista

A morte do vocalista “Chorão” da Banda Charlie Brown Jr. traz a tona um conjunto de significados que, infelizmente, as pessoas só se dão conta após uma tragédia como esta. “Chorão” conseguiu encantar porque, como Cazuza e Renato Russo, transpôs para suas letras o sentimento juvenil de maneira simples e clara, as atitudes do nosso cotidiano. Suas letras eram centradas na realidade das pessoas, do sentimento, da vida, dos desafios e dos sonhos da juventude.

A banda Charlie Brown Jr conseguiu inovar no estilo a partir da junção do pop rock e o hip hop, criando um maior sincronismo entre os dois gêneros que fez unir as mais variadas camadas sociais, tanto das áreas centrais das cidades e das periferias, quanto das favelas, dos morros e a galera do “asfalto”, como se fala no Rio de Janeiro quem mora na “cidade baixa”.

A gente só consegue perceber o quanto a Charlie Brown Jr foi bela em sua trajetória, quando analisamos a própria história do rock nacional nas últimas décadas, principalmente, a partir dos anos 80 com a ainda incipiente banda que deu origem a Legião Urbana e Capital Inicial, que foi a Banda Aborto Elétrico, de Brasília. Mas também tivemos Camisa de Vênus, Barão Vermelho que tinha Cazuza como seu vocalista, Paralamas do Sucesso, entre outras.

Nos anos 90 ocorreram momentos de crise do rock nacional. Enxergava-se que esse havia estagnado, porque também, por incrível que pareça, como juventude, passávamos um momento de perda de identidade social e política que foi muito comum à América Latina toda. Acredito que a banda Legião Urbana se esgotou justamente em virtude da crise de identidade que a juventude vivia naquele momento e a própria banda passou a refletir isso. Quais os grandes sucessos da Legião nesse momento? Em que dimensão tivemos sucessos como “geração coca-cola”, por exemplo?

É importante frisar que o próprio surgimento da banda Charlie Brown Jr não deixa de ser um fenômeno sociológico musical, porque o seu sucesso esteve vinculado às condicionantes e circunstancias que foram modeladas naquele momento. Um fenômeno musical e seu sucesso vão sempre estar conectados com determinado público e com determinado momento histórico, social e político.

Esse aspecto é muitas vezes o motivo que levou à exaustão musical de muitas bandas e artistas que não foram capazes de se entender como fenômeno sociológico e se reinventar.

Sempre admirei Chorão porque a humildade familiar, a separação dos seus pais e a limitação nos estudos não se tornaram algo limitador a sua arte, ao seu talento – e porque não dizer à sua genialidade? – Pelo contrário, sempre percebi que isso acabava fazendo parte da composição química de seu combustível musical.

O potencial artístico de Chorão fica claro em suas letras que sempre esteve vinculado à sua raiz social e cotidiana, assumindo um estilo próprio que a galera do Skate, seu esporte favorito, chama de “grunge”.

Mas, Chorão nos impôs o acaso da música do Cazuza “meus heróis morreram de overdose”, lamentavelmente. Não que seja um herói, mas um ídolo. Não que tenha bola de cristal e nem poderia ser injusto com quem admirei ouvir, mas as circunstâncias demonstram que no mínimo foi uma “overdose de viver” demais.

A Charlie Brown Jr. e o Chorão, a Legião Urbana e o Renado Russo e Cazuza não morrem. Justamente porque frutificaram sonhos, ajudaram-nos a refletir sobre nossas próprias vidas, o cotidiano e também a amar. Sem dúvida esse é o maior legado.

Blog do Banana

Related Posts

Deixe um comentário